Saí de casa, fechei o portão e dediquei-me por um bocadinho a uma nódoa em forma de linha ao fundo das calças, junto aos tornozelos. Alheio ao que se passava à minha volta, levantei o corpo e tirei o puxo do cabelo. Sem esperar, passei por ti, e tu, com um ligeiro sorriso no rosto, olhas-te-me com um brilho nos olhos. Quase corada disseste:
-- Boa tarde.
Olhei para ti. Senti a coragem na tua voz e a vergonha por todo o teu corpo. Uma vergonha que espelhei facilmente em mim, e que se apoderou também do meu corpo, da minha mente, da minha voz. Respondi:
-- Boa tarde.
Um "boa tarde" num tom que me deixou a pensar o caminho todo até ao multibanco. Um tom de voz demasiado "adulto" e não... calmo ou meigo. Um "boa tarde" que fazia parecer que já te conhecia à anos, quando na realidade este fora o nosso primeiro contacto, o nosso primeiro encontro. O nosso primeiro namoro entre olhos. Achei um tom de voz que não combina em nada comigo e que tenho apenas de tentar controlar, de melhorar. Não quero assustar ninguém. O que me faz lembrar de um episódio que aconteceu em Aveiro, no Jumbo. Fui atendido por uma rapariga, extremamente bonita, e também eu na altura tentei controlar a minha vergonha pensando naquele espaço como um "intermarche" que eu conhecia e não um espaço onde me sentia exposto apesar de ninguém me conhecer. Ao voltar para a carrinha, a minha mãe comentou que tinha deixado a rapariga muito nervosa e atrapalhada. Que ao invés de ela dizer boa tarde, tinha dito bom dia. Coisa que mal reparei, pois também eu estava nervoso e envergonhado.
O que me surpreendeu em ti, não foi a tua idade mas a coragem que tiveste em cumprimentar alguém, um rapaz, que não conhecias de lado nenhum, que talvez tenhas apenas visto do outro lado do passeio sem saberes quem era. Tenho de admitir que não estava à espera do teu "Olá", mas soube-me bem. Principalmente por te sentir sorrir de vergonha depois de passares por mim. Fizeste-me olhar para trás e perguntar-me a mim mesmo, de novo, se eu era realmente bonito para as outras pessoas. Se eu sou realmente bonito aos olhos dos outros como sou para mim. Já longe, olhei para trás mais umas poucas vezes na esperança de olhares também. O Ego, feliz, pulava de alegria. Pela primeira vez, ouvira o "és muito bonito" através de palavras, de um som, ao invés de um olhar ou de um caminhar.
Tal como me acontece a mim, por vergonha, começo a acreditar que quando uma mulher, uma rapariga não me olha nos olhos, mas me evita, o que ela realmente está a tentar fazer é esconder a vergonha de ver alguém tão bonito. Digo-o porque eu faço o mesmo, para evitar ser apanhado em flagrante a admirar. Não é por ser uma coisa má, é para eu não ter de ficar vermelho que nem um tomate sem saber onde me esconder.
Tal como me acontece a mim, por vergonha, começo a acreditar que quando uma mulher, uma rapariga não me olha nos olhos, mas me evita, o que ela realmente está a tentar fazer é esconder a vergonha de ver alguém tão bonito. Digo-o porque eu faço o mesmo, para evitar ser apanhado em flagrante a admirar. Não é por ser uma coisa má, é para eu não ter de ficar vermelho que nem um tomate sem saber onde me esconder.
Ao lado de uma rapariga da tua idade, só poderei ser amigo; O que me fez pensar no porquê de tu teres sido capaz de me cumprimentar, de iniciar conversa, e outras raparigas muito mais velhas do que tu, que são autênticos animais de socialização, serem incapazes de o fazer sem primeiro me gozar ou se rirem. E digo isto porque... para além do óbvio interesse que tiveste em mim, tiveste um desejo, um "amor à primeira vista", uma vontade emocional.
Deparo-me, quando vou à feira ou ao centro comercial, com mulheres mais velhas e olharem-me de alto a baixo, quase como se os maridos não tivessem ao lado delas. Um olhar que me "devora" e que me deixa, de certa forma, desconfortável por não saber o que fazer. Será que me olham daquela maneira só porque levo o cabelo comprido? Só pela minha cara? Ou será pelo conjunto tudo?
Continuo sem me esquecer da rapariga que uma vez em Coimbra ficou completamente vidrada em mim enquanto caminhava no sentido oposto.
O teu "Olá" desencadeou em mim uma série de perguntas e respostas. Uma delas foi: "Será que valho a pena para alguém?", "Será que tenho algo de jeito para dar?". Para além de tudo o que sei, de tudo o que faço, será que espremido eu seja capaz de dar o que sou e o que amo?
Continuo sem me esquecer da rapariga que uma vez em Coimbra ficou completamente vidrada em mim enquanto caminhava no sentido oposto.
O teu "Olá" desencadeou em mim uma série de perguntas e respostas. Uma delas foi: "Será que valho a pena para alguém?", "Será que tenho algo de jeito para dar?". Para além de tudo o que sei, de tudo o que faço, será que espremido eu seja capaz de dar o que sou e o que amo?
Tenho pena que sejas tão nova, e que tenhas sido a primeira rapariga a cumprimentar-me na rua, a encarar-me, a sorrir-me. A única e a primeira rapariga sincera, que não conhecia antes, a não se rir de mim mas a deliciar-se com o que viu. De te envergonhares. De seres simpática. E aproveito para te contar um pequeno segredo. Se não tivesses sido tu a dizeres-me olá, eu nunca te teria cumprimentado. A razão? Porque sou muito envergonhado, especialmente com raparigas. Talvez seja essa a razão de ainda continuar sozinho. Acho que as raparigas de hoje esperam que seja o homem a dar o primeiro passo. Parece que comigo vão ter de esperar muito tempo até isso acontecer...
O teu "Olá", mudou a maneira como me vejo e como interajo. Obrigado.
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