Quando acabares a universidade e sentires a vida a bater-te nas costas, nos ombros e na cabeça com uma força que te desmoraliza em cada chapada e em cada murro nos centímetros que te compõem o corpo e te constroem como gente, irás perceber que a boa vida que os teus pais te deram enquanto estudas-te, o dinheiro que esbanjaste quando te o davam para a mão que te beijavam, e apenas a matéria que decoravas só para ter mais um curso, o teu emprego de sonho, a profissão de uma vida, irás perceber que nada irá ter valor no mundo "real", que desleixaste e te despreocupaste em conhecer.
Pais que te pagaram tudo, que beijavam os pés e te deixavam dormir a tarde toda aos fins de semana, só porque estavas cansada de teres estudado tanto. Quando perceberes que ao te terem deixado em paz, quando era preciso arranjar um torneira ou uma telha partida, e te trocavam a tua mão de obra pela de um homem pago à hora, será tarde de mais para começares a fazer alguma coisa. Dar valor ao que não interessa, com valores que não te ajudam a crescer e a amadurecer.
Quando tiveres as obrigações a pesarem-te na carteira como bolas de chumbo que nunca soubeste carregar e gerir o seu peso, porque sempre tiveste dinheiro e nunca foi preciso fazeres um caralho!?, perceberás que a vida que os teus papás te deram, porque pura e simplesmente te queriam ver na universidade, babarem-se para cima dos outros, mostrarem-se orgulhosos do que que alcançaram através de ti, perceberás que na verdade nunca viveste, nem nunca construíste nada por ti. Não foste tu... foram os teus pais que falharam, que te deram de mais, que te protegeram de mais, que te educaram de menos e te tiraram dos ombros o peso que a sociedade cria em torno deles. A única coisa que te afectou e que te deixavam que te afectasse, era as tendências da moda, a imagem que de rica que têm de ti, a boa vida que emanas sem qualquer necessidade.
Quando abrires os olhos, irás perceber de que o caminho que seguiste, foi o errado, o mais fácil, o mais simples e o mais bonito. Quando chegares ao fim da estrada que sempre esbanjaste exageradamente "só por que podes" e porque "tens dinheiro", dar-te-ás conta que tu não estás no passeio amarelo, mas num poço enterrada até à cabeça, com uma simples corda velha como meio de salvação.
Felizmente os meus pais nunca me deram tudo de mão beijada. Fiz a faculdade com esforço e dividindo o meu tempo entre o estudo e ajudar a família. Trabalhei em férias, tirei pequenos cursos que espero que me ajudem agora, que procuro trabalho. Preparei-me para a vida. Aprendi a ouvir um não. Aprendi a não ansiar o sim.
ResponderEliminarE, infelizmente, conheço muita gente que nunca irá aprender o que é a vida. Irão limitar-se a viver às custas de outras pessoas. A descrição que fizeste neste teu texto reflecte-se em muitos conhecidos meus.