segunda-feira, 5 de agosto de 2013

As crianças e a concentração


Costuma-se dizer, que a nossa concentração tem uma duração máxima de 15 minutos.

Na escola, a matéria não é tão interessante como um episódio de 25/30 minutos de Dragonball, que quando acaba "Não percam o próximo episódio, porque nós também não!", os 30 sabem a pouco. Isto é fácil de explicar utilizando a lei da relatividade de Einstein. Quando estamos entretidos, o tempo passa muito mais depressa, e uma das razões principais é o simples facto de o nosso cérebro desligar o nosso relógio biológico, de se esquecer, de deixar de dar importância, pelo simples facto de estar a ter prazer com o que quer que esteja a fazer no momento.

Se repararmos e estivermos com atenção ao que se passa no telejornal em si, nas imagens, nas músicas, nos tempos, reparamos que uma noticia não tem mais do que 5 minutos. Cada imagem dura 3 segundos, e só dura mais de 3s quando a imagem não é parada. A própria televisão cria em nós uma concentração abaixo dos 15 minutos. Vivemos, neste momento, numa geração do "Agora", do "Rápido", do "Fácil" e do "Acessível". Não temos paciência para esperar pelo que desejamos. Culpada disso é a Google, que nos destruiu a atenção, a concentração, que nos tornou viciados pela rapidez com o acesso à informação, que nos desinformou, apesar de nos ter actualizado. Que nos des-socializou, apesar de ter-nos colocado todos cada vez mais perto. Que nos roubou a capacidade de procurar uma palavra num dicionário, apesar de nos ter facilitado a aprender a escreve-la.

Os Superficiais

A nossa concentração quando estamos motivados, quando tiramos prazer, é capaz de durar horas, e duraria dias ou semanas se não precisássemos de dormir! Perguntem àqueles que trabalham naquilo que realmente gostam de fazer, que realmente fazem do seu trabalho o seu hobby. Eu próprio tenho facilidade em ficar concentrado em coisas que muitas pessoas nem sequer gastariam 3 segundos do seu tempo, porque pura e simplesmente não lhes interessa. Contudo, estes "15 minutos", este prazo, pode ser comprovado através de uma conversa em árvore. Através de uma boa conversa. Iniciamos uma com um assunto, com uma opinião, com um argumento, com uma perspectiva e facilmente se constrói uma árvore enraizada. Ao fim de alguns minutos perdemos o inicio, teremos entretanto percorrido meia-dúzia de assuntos diferentes, provando que a nossa "atenção" argumentativa, ou de processamento de grandes quantidades de dados, nomeadamente memórias e experiências, não dura mais do que 15 minutos a menos que apontemos as coisas num papel. E digo isto porque enquanto esperamos pela nossa vez de falar, a conversa já avançou para outros assuntos "mais interessantes".

É por isso uma marca precisa de causar impacto (positivo) logo no primeiro placar, com as cores, com as letras, com o formato. Precisa de criar um logótipo ou uma mensagem de uma determinada maneira para que seja fácil de perceber, de ler, de interpretar e manipular-nos o suficiente para decidirmos comprar o produto.
É também por isso que um bom interface web é importante, porque se uma pessoa demorar mais do que 30s para encontrar o que procura ou se o número de cliques é superior ao que deveria ser necessário para uma operação fora do mesmo, então aquela página está condenada ao fracasso.

A nossa concentração desenvolve-se connosco desde o berço. Mas até enquanto somos bebés, perdemos rapidamente a concentração e o interesse para com um peluche, ou porque estamos cansados, ou porque já não nos atrai, já não nos inspira, nos fascina ou inspira. Tal como acontece com a música, com os filmes, com os livros, com a pintura.
A concentração sobre uma única tarefa, tem uma duração máxima de 15 min (+/-), e a razão é muito simples. Possuímos ainda um instinto muito primitivo a comandar o nosso cérebro, os nossos 5 sentidos, apesar de cientistas confirmarem de que existem outros, como é o caso do sentido de gravidade. Esse instinto primitivo de curta duração de atenção, permitia-nos estarmos atentos ao meio ambiente que nos rodeada, de verificarmos, procurarmos e termos atenção a possíveis predadores, enquanto apanhávamos frutos ou socializávamos uns com os outros. Como se pode testemunhar com as suricatas.
A nossa falácia para com a nossa fraca atenção, não é de todo um problema grave, mas um mecanismo importante que nos garantiu a sobrevivência durante milhões de anos. O problema não está em nós, mas no hoje. Porque o hoje, exije de nós capacidades, interesses, que não estamos talhados para fazer responder. Não evoluímos para o mundo de hoje, não nos aperfeiçoámos para o agora, mas para o mundo austero em que a morte caminhava por trás de nós, seguindo cada pegada com o mais profundo silêncio. O nosso problema de concentração já foi no passado uma grande ajuda, e hoje é apenas, uma grande dor de cabeça.

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