Vi, o calor desaparecer por trás de mim, caindo na relva e no topo das árvores, como um adeus já tardio. Levava com ele as horas, a energia, as corridas e a caça aos pássaros. Senti frio uma brisa levantar voo sobre o meu pêlo, intensificado a saudade da ausência de tempo para conquistar e descobrir novos territórios, conversar com os vizinhos e escorraçar os intrusos.
À uma semana que não vejo a borboleta que me fez correr atrás dela e fazer-me aventurar como o meu coração nunca o tinha feito. De olhar para ela quando batia as asas, ao invés de lançar as garras sobre as suas cores tão profundas, tão destacadas das outras cores mortas que me rodeiam. Observar com detalhe o bater leve das asas, quando parada, como o bater do meu coração quando me deito sobre o telhado e vejo as luzes longínquas da noite piscar e caminhar na sua vida tão calma.
A manhã foi calma, a tarde calorenta e agora que tudo acaba, sinto a angústia afogar-me os olhos, apertar-me o peito e impedir de voltar para o cama que me abraça e esfrega o pêlo. Angústia de não saber por onde anda e onde apenas vôo. Porque olhar para o pôr do sol lembra-me e aquece-me as notas musicais daquela menina sempre gulosa pela minha barriga. Daqueles dias escuros em que não me atrevia a sair muito de casa ou do seu colo. Dos dias da comida na taça e dos presentes, mortos, que lhe levava com tanto carinho como prenda de anos.
Já não ouço o ronronar da besta metálica, os sacos das compras ou a chave entrar na porta. Não ouço a sua vida mas ainda sinto a sua voz doce aos meus ouvidos, ainda sinto a sua mão no meu corpo e os seus olhos grandes incomodarem-me a alma traquina.
Estou só, perdido, desconhecido, à espera que outra vida me receba e cuide tão bem como eu os protejo das pragas e dos dias que passam em angustias e solidão.
À uma semana que não vejo a borboleta que me fez correr atrás dela e fazer-me aventurar como o meu coração nunca o tinha feito. De olhar para ela quando batia as asas, ao invés de lançar as garras sobre as suas cores tão profundas, tão destacadas das outras cores mortas que me rodeiam. Observar com detalhe o bater leve das asas, quando parada, como o bater do meu coração quando me deito sobre o telhado e vejo as luzes longínquas da noite piscar e caminhar na sua vida tão calma.
A manhã foi calma, a tarde calorenta e agora que tudo acaba, sinto a angústia afogar-me os olhos, apertar-me o peito e impedir de voltar para o cama que me abraça e esfrega o pêlo. Angústia de não saber por onde anda e onde apenas vôo. Porque olhar para o pôr do sol lembra-me e aquece-me as notas musicais daquela menina sempre gulosa pela minha barriga. Daqueles dias escuros em que não me atrevia a sair muito de casa ou do seu colo. Dos dias da comida na taça e dos presentes, mortos, que lhe levava com tanto carinho como prenda de anos.
Já não ouço o ronronar da besta metálica, os sacos das compras ou a chave entrar na porta. Não ouço a sua vida mas ainda sinto a sua voz doce aos meus ouvidos, ainda sinto a sua mão no meu corpo e os seus olhos grandes incomodarem-me a alma traquina.
Estou só, perdido, desconhecido, à espera que outra vida me receba e cuide tão bem como eu os protejo das pragas e dos dias que passam em angustias e solidão.
Borboleta, para onde foste?
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