Abri a porta e diante de mim uma luz dourada brilhou, trespassando-me os olhos. Os raios de sol cegaram-me e depressa ergui a mão para criar uma sombra. A pequena janela fizera a sua primeira vitima. "Com caraças!" pensei eu. Mas antes de me recompor daquele "violento" ataque, fui "agredida" de novo.
-- Ola! Eu sou a Cláudia. -- disse a rapariga com um sorriso metálico.
-- Ola. -- não dizer-lhe o meu nome, não era uma questão de ter medo, mas uma questão de escolha. Não me perguntou, nem me obrigou a dizê-lo.
Cláudia sorriu procurando por uma expressão e continuo com o grande entusiasmo que trazia pelo corpo:
-- Não sei se já conheces a cidade mas... Logo à noite, eu e umas amigas vamos ao café e caminhar um pouco. Como és nova cá, pensámos em te convidar, para te dar a conhecer esta grande cidade. -- fez uma pausa enquanto me olhava bem disposta -- Queres... vir connosco? Não és obrigada.
-- Não sei se já conheces a cidade mas... Logo à noite, eu e umas amigas vamos ao café e caminhar um pouco. Como és nova cá, pensámos em te convidar, para te dar a conhecer esta grande cidade. -- fez uma pausa enquanto me olhava bem disposta -- Queres... vir connosco? Não és obrigada.
Fiquei encantada com o seu sorriso bonito e prateado, protegendo dentes quase tão brancos como... Virou ligeiramente a cabeça e caí em mim.
-- Sim. Obrigada pelo convite. -- aceitei.
-- Passo por cá às 21h.
-- Ok.
Ela sorriu e ficou por momentos a admirar-me, de olhos vidrados na minha roupa e talvez até no meu peito. Acredito que me tenha embelezado e até mesmo fantasiado, naquele pequeno momento em que não sabia se fechava a porta ou se esperava que ela disse-se alguma coisa.
Ela sorriu e ficou por momentos a admirar-me, de olhos vidrados na minha roupa e talvez até no meu peito. Acredito que me tenha embelezado e até mesmo fantasiado, naquele pequeno momento em que não sabia se fechava a porta ou se esperava que ela disse-se alguma coisa.
-- Até logo. -- finalizou acenando-me com a mão.
Fechei a porta devagar enquanto o barulho de conversas e gritos se atiravam pelas folgas como Jeovás que não nos deixam sossegadas por um minuto! À custa disso, já perdia 4 finais de filmes.
Gostava de estar num local, por um momento que fosse, sem a guerra sonora que espartilha o mundo. De ver, sentir e ouvir, a natureza calma, rica de viva, de energia, de beleza. Emoções, que se impregnam na roupa se não tivermos medo de nós próprios. Cantigas que ecoam nos ossos e permanecem na mente criança, se não tivermos medo do que seremos.
Desejava um mundo em silêncio, vazio de um tudo que não dá nada. Um mundo cheio de tudo o que não tem voz mas que se faz ouvir todas as manhãs. Que se faz ver e sentir em cada desabrochar de flor, e nos faz pensar, em cada preguiça milenar que cocega as raízes dos troncos que já ouviram o mundo chorar... chorar de dor, de tristeza, e sorrir de grande alegria, quando soube não estar mais sozinho neste mar infinitamente negro, gelado e profundo.
Arrumei a roupa nos armários. Por ordem de chegada e não por cores ou tamanhos, talvez por tipo. Meias e cuecas misturadas num vulcão colorido, fofo ao toque e rechonchudo ao olhar. Era incrível como um pequeno amontoado de linha, de cores e fibras me aconchegavam. Um tão pouco que me era agora tanto. Definitivamente, a minha gaveta preferida!
Não havia fotografias para pendurar ou poisar nos velhos móveis. Não havia memórias onde quisesse perder o meu olhar, nem feitiços emoldurados pelo tempo, que me fariam chorar de saudades.
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