domingo, 6 de janeiro de 2013

O verdadeiro amor existe?


Ao ver "Shakespear in Love" (A Paixão de Shakespeare), uma cena em que o casal estava na cama a ler algumas folhas da peça, pensei no que é os fez juntarem-se, amarem-se, apaixonarem-se um pelo outro. Não foi terras, não foi dinheiro, não foi conhecimento, inteligência, documentários, música, filmes, gostos... bem, talvez tenha sido a inteligência e o gosto mútuo pela Poesia e Teatro. Mas fora isso, o que unia então outros casais na altura? Dinheiro? Amor interesseiro. Hoje podemos partilhar muito mais e ainda assim continuarmos a ser esquisitos com quem temos ao nosso lado. Mesquinhos e sonhadores, que ambicionam alterar o seu "amado" por algo mais "acessível" e fácil de lidar, de compreender, de ensinar, de educar...
Preocupamos-nos com as diferenças dos nossos gostos, como abordo em "O divórcio em Portugal...". O que nos faz odiar tanto algo que é diferente? O que nos faz defender tão ferozmente aquilo que é do nosso agrado, e odiar o que nos incomoda? Porque não faz parte de nós... será um mecanismo de defesa da nossa personalidade?
O que aconteceu para que nos tornássemos tão... incomodados? Se antigamente não tínhamos tanto para partilhar? Será que o amor era na altura, mais verdadeiro que o de hoje? Acredito, acho que sim, porque focavam-se muito mais no amor que sentiam, no que as coisas que os dividiam.
O que fez D. Pedro amar tanto Inês? Mesmo depois da sua morte fez dela rainha e mandou perseguir todos os homens envolvidos no assassinato da sua amada. O que era e como era o amor naquele tempo?
O que fazia homens e mulheres dedicarem-se uma vida, curta, aos seus amados? Nos tempos em que a poesia era uma prova de amor delicada e o enfrentar dos perigos, a prova eterna da sua dedicação e paixão. O que aconteceu para que tudo isso mudasse? Para onde foram? O que existe ainda desses tempos?

Fernando pessoa num dos seus poemas, se não estou enganado, diz ter saudades do amor que havia e existia no tempo de Camões. Em que era verdadeiro, que era sincero e epifânico, platónico.
Hoje em dia com a sociedade militista, onde as modas imperam e o amor falso é vendido em todos os cantos e recantos como prostitutas belas, charmosas, modelos de corpos "definidos" e bonitos. Numa sociedade em que os gostos entram em guerras religiosas, tudo e todos tentam vender histórias de amor, amor de príncipes e princesas, de reis e rainhas, de pobres, de tribos não que se entendem, de países que se odeiam.
É por isso que se continuam a criar histórias de amor perfeitas, bonitas, fantasiosas, emocionalmente envolventes e até negras de um choro que arrepia as próprias almas, sobre a morte, a perda e a solidão. É por isso que se continua a dizer que a vida não é como um conto de fadas, mas isso não significa que nunca tenham sido. Foram-no! E é por isso que se escreve sobre isso. É por terem sido em tempos algo bonito e "perfeito" que hoje podemos criar e ambicionar.
A vida não é como nos filmes e as histórias de amor são só histórias. Pois tudo o que é bom, acaba depressa. Não é por serem momentos, é por serem decisões.

Nos dias de hoje, toda e qualquer mulher ambiciona uma relação de princesa, de rainha, de luxuria e riqueza. A sociedade vende emoções, desejos, opiniões, manipula e comercializa todo e qualquer dia ou história que pode. Dia dos namorados, dia da mulher, filmes de princesas e de amores proibidos.
Todas ambicionam a fotografia perfeita dos dois. Criam uma história bastante complexa sobre a relação, sobre o futuro, sobre os filhos, sobre a sua carreira profissional, e ainda mais, sobre as boas acções do seu amado. Sonham para voar alto. E voam, até ao dia em que percebem que o seu "amado" tem mais "defeitos", porque não combina nem é semelhante ao que tanto tinha desejado e sonhado com tanto afinco, com tanta força. Dizem então, quando as coisas não correm como esperavam, quando o controlo sobre o outro não existe, ou a sua vida mágica parece mais uma tragédia repleta de jogos psicológicos e infelicidade do que um momento ao pôr do sol, que os homens ou as mulheres são todas iguais.
E têm razão. As mulheres são umas Cabras! E os homens são uns Porcos Nojentos!
Todos sonham, ambicionam, planeiam e tentam tornar real. Porém, existe uma grande diferença entre amar e saber amar. Entre respeitar e saber respeitar. Entre morrer de amores e paixão. E até mesmo a paixão é diferente de ligação.
Sim, é verdade que existem excepções, mas é necessário, ou existem mesmo excepções em relações amorosas?
Hoje em dia diz-se que o melhor na velhice, é que se tem tempo, se pode passar horas a descansar  a ler o jornal, ficar sentado no banco ou conversar. Que se pode passear e comprar. Mostram velhotes, ou descrevem velhotes, que ficam o dia a ler, a ouvir rádio, entretidos com a maquinização de uma sociedade sem valores amorosos. Isso é algo produtivo? E como faziam as pessoas em 1100, 1500? Quando não havia mais nada para fazer do que lavrar os campos e pastar os animais? Como "morriam"? Como viviam os seus últimos anos de vida?
Saber estar numa relação inter-pessoal, é algo que 90% da população chama de "namoro"/"namorar". Para elas, isso é uma relação inter-pessoal, e nada há a acrescentar. Tudo o resto se perde um pouco com a paixão louca e sem sentido, sem consciência que não entendem e desconhecem.
O que fazia então os casais apaixonarem-se e amarem-se para "todo o sempre" na idade média? Como referi acima, não havia dinheiro, havia gado e muito trabalho. Havia terrenos para cultivar. Não havia cultura, não haviam empresas a não ser o mercado. Resumindo e esmiuçando bem o mundo na idade média, ou mesmo no ano 100, 800, 1200, não havia nada de sustentável nem de valioso que fizesse unir duas pessoas sem ser pelo amor. É verdade que existiam as filhas ou filhos de donos de grandes terras ou de muitos animais, que eram vistos sempre como pessoas mais ricas, mas tinham de trabalhar como todos os outros porque o dinheiro não caía nem cai do céu.
No filme Braveheart (O Desafio do Guerreiro), o protagonista mostra o seu amor "cego", o limite da sua paixão, a sua dor perante a perda da sua amada. Por uma rapariga declarou guerra a um país. Por uma fêmea, que sempre cuidou e tentou agradar, revoltou-se, vingou-se por lha terem roubado.
A história antiga está repleta destas histórias, de amor e vingança. Até os contos para as crianças, "fábulas", como é o exemplo da Bela Adormecida, Gata Borralheira, A Bela e o Monstro. "Todos" são príncipes ou princesas, demonstrando que o amor na antiguidade, era em grande parte comprado e acariciado pela riqueza da "alma gémea". Deitando assim por terra qualquer imagem bonita do amor verdadeiro e sincero que surgia do "coração" e não da ganância ou da luxuria.

No entanto, há quem goste de dizer que está bem, que a relação é muito boa e amorosa, que é feliz. E eu tenho dificuldade em acreditar em 90% das afirmações. De gente nova principalmente, até aos 30. Porque acham que conhecem, que sabem como funciona, que são conscientes e têm "experiência", mas na realidade .. não passam de mais umas relações corriqueiras, sem valor e sem sentido. Sim, ser feliz é bom, e não é preciso "muito" para o ser, mas enquanto acham que tudo está bem e é perfeito, enganam-se.
Costuma-se dizer que quem tem beleza, desdenha de inteligência. É verdade. Quem é bonito, facilmente se casa por interceirices, por dinheiro e poder social. Não precisa de ser inteligente porque já tem beleza. Não precisa de abrir a boca, apenas as pernas ou colocá-lo em pé. E não, não existem excepções. No reino animal não existe, e por isso também não irão existir na nossa "sociedade".
Não existem amores perfeitos, nem relações perfeitas. Da mesma maneira que não existem pessoas perfeitas. Existe sim, respeito e partilha com vários pontos em comum. Existe sim, maneiras idênticas de ver e sentir o mundo, de saborear e de se emocionar. As almas gémeas não existem, e aquela célebre frase "os opostos atraem-se" é completamente errónea, incorrecta e errada! Absurda. A maneira, de como nós mamíferos, nos apaixonamos e amamos hoje em dia, principalmente nós Homo-sapiens, tem vindo a sofrer alterações profundas a nível psicológica.

Tudo é psicológico e instintivo. Tudo no amor pode ser explicado pela ciência e através das memórias. Os olhos da rapariga, o queixo do rapaz, as mãos grandes ou pequenas, o cheiro ou o perfume, a maneira de andar e de falar, não nos atraem porque realmente a pessoa é "atraente" fisicamente, também mas não só. É-nos atraente, porque nos lembra alguém, ou nos recordam momentos na infância.
Gostar de uma determinada cor, é algo que tem explicação. Não é, como muita gente acha e age, que não tem nem precisa de ter explicação. Não quero tornar tudo preto e branco. Não quero controlar tudo, ou dar uma razão ou uma explicação. Mas a verdade é que tudo é explicável através da ciência e da psicologia.

O verdadeiro amor existe?
Não! Não existe, de todo! É apenas e só uma fantasia do nosso cérebro emocional. O que existe é um desejo absolutamente normal, instintivo, de procriar e perpetuar uma geração com bons genes.
A parte psicológica, do desejo ardente, do amor cego e da paixão, apenas fornece e tem como papel, antever o estado físico das nossas crias (bebés). Manter um parceiro sem ter filhos, é como um Macaco ser para sempre amigo de uma banana. É anti-natura! Coisa que muita pessoa estúpida ADORA fazer porque odeia profundamente o instinto animal.
Somos um dos animais que prevê e tenta prever tudo o que o rodeia, como é abordado em "Inteligência Animal", em que os cientistas explicam que todos os animais têm uma memória a longo prazo, que serve para os lembrar e ajudar a destingir dos alimentos maus, dos saudáveis. E, como afirmam também, também os animais tentam antever uma acção. Inteligência Animal (Texto Blog)
É verdade que uma relação entre duas pessoas, para além da partilha de amor, partilhem também sabedoria, que é O grande objectivo de uma relação; porque os bebés não nascem ensinados. Partilhamos experiências e convivemos em conjunto, na paz e harmonia, porque as nossas emoções psicológicas assim o exigem. Gostamos de ser acarinhados e cuidados. Somos viciados no prazer. Em vários tipos de prazeres na verdade.
Mas comparados com certos animais, o que separa esta nossa maneira de "amar" alguém, com a maneira de  os outros animais "amarem" os seus companheiros? Peguemos como exemplo o animal com quem somos mais parecidos sociológicamente. Suricatas.
Nas suricatas, não existe homossexualidade, para dizer a verdade, acredito que seja mais uma deficiência a nível de hormonas do que a nível cerebral. O cérebro apenas gere as funções e necessidades do corpo em que habita. Explicando então, que cada cérebro funcionará grande parte através do seu instinto animal, através dos cheiros, e da visão. O que quero dizer, é que as Suricatas vivem relações duradouras, com o mesmo parceiro, e não partilham flores nem chocolates. Protegem-se uns aos outros e não um único individuo. Protegem uma ninhada e não apenas o seu amado, ou a sua amada. Todos lutam, todos fogem, todos caçam e todos vigiam. O amor deles não é menos que o nosso por não sentirem da mesma maneira que os seres humanos, e não tenho a certeza absoluta se é totalmente verdade.
São seres que choram e reconhecem uma morte. São seres que amam, cuidam e protegem. Quais são os seus interesses "pessoais"? A nível pessoal talvez não tenham grande coisa, dirão vocês, porque são como as ovelhas, são todas iguais e não se conseguem destingir  Na nossa perspectiva, isso é verdade, mas na perspectiva deles, também eles nos dirão que somos todos muito parecidos. Significa então que a sua "não diferença" física ou facial, deixa de parte uma possível atracção física  mas uma atracção animal, instintiva, hormonal. De certa forma, também é verdade. Mas eles reconhecem-se entre eles, não só através do cheiro, mas também das riscas ou da sua cara. Vi num documentário, um estudo que fizeram com ovelhas. Colocaram numa caixa fechada, uma ovelha, e num monitor, 2 imagens de caras de ovelhas. De um lado estava uma ovelha que o sujeito de teste conhecida, e do outro, uma ovelha que nunca tinha visto e novo. Cada vez que a ovelha reconhecia um rosto, enfiava a cabeça nos buracos que a guiavam até à fotografia.

As suricatas, são talvez o animal que mais amor e respeito têm para com os seus parceiros. Que mais ligação têm com os restantes elementos do grupo. Têm filhos como nós e todos os outros animais, mostrando que não é preciso amor para uma espécie sobreviver ao longo dos tempos. Há milhares de milhões de anos que nascem bebés, crias, e ninguém faz uma festa. Há milhares de milhões de anos que nos reproduzimos sem amor, desejo e paixão, e temos feito um bom trabalho. O que nos diferencia então das outras espécies, são a partilha de experiências, de emoções, de nos recordarmos e sentirmos. De criar objectivos e sonhar com o que nos é irreal. "A nova lista de objectivos...".

Não, o amor verdadeiro e infinito não existe. É apenas uma fantasia emocional que o nosso cérebro tende em criar, porque ele é viciado em carinho e preguiça. Nesse aspecto, somos como os macacos. Não conseguem trabalhar em conjunto porque são gananciosos, e também nós os somos. Controlamos-nos, é verdade. Re-inventamos e priorizamos os nossos desejos, sexuais ou emocionais.
Continuamos a exigir dos outros, todo o seu corpo e cérebro, que nos saciem os nossos apetites e desejos. Que nos dêem só a nós e nunca aos outros. Somos interesseiros e isso será sempre uma realidade e uma verdade. Não é um problema grave, a ganância de afecto e de atenção. De exigência de carinho ao nosso ego. Isso existe e acontece por todo o reino animal. Emocionalmente sabemos e sentimos que se formos todos assim, não irá existir amor. As fêmeas tornaram-se num dos animais mais emocionais, pois são as que mais sofrem de problemas hormonais para poderem estar aptas a procriar.
Existe também ainda, pessoas que julgam não fazer nem descender dos animais "irracionais". Julgam cegamente que por usarem telemóveis, calçarem meias, verem televisão e conversarem, que terem aulas e participarem em várias actividades "intelectualmente" bem aceites, que deixaram de pertencer à árvore genealógica dos antepassados roedores, como se na revista "Enciclopédia - Vida na Terra - Primatas".

Para não me alongar muito mais, pois ainda tenho mais para dizer sobre o assunto, deixo apenas com um pensamento.
Tudo é confuso e complexo. Será realmente assim tão confuso e complexo, ou somos apenas nós que exigimos, fantasiamos e desejamos demais?

"Tinha aquilo que sempre quis, mas não o que realmente precisava." - Leap Year

De facto as músicas são bonitas, mas não significa que uma relação também o seja de todo e quais quer maneiras, só porque ambas são felizes. Existe muito mais de animal numa interacção, do que de amor e paixão.

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