quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Fechado...



As lágrimas escorriam pelos rostos tristes, com um sentimento de impotência no peito que os fazia arfar, um "respirar" se os tornava desencorajador enquanto o caixão descia diante das suas almas abandonadas. Um peso que não desejavam a ninguém, um peso literalmente morto.

Um dia de "nojo", que de nojo tinha apenas a quantidade de pessoas que lá tinham ido, simplesmente deixar uma flor, noutra campa, noutra pedra que não aquela. Um buraco escuro, frio e húmido, contrariando aquela manhã tão calorenta. Um dia risonho...

Os pássaros cantavam, pareciam até conversar tal como faziam todos os dias das suas vidas. O mundo nunca perderá a sua alegria, o seu ódio e a sua indisposição. "Perdesse quem perdesse."

Ouvia-se ao longe o riso de crianças brincar na água, e tudo nela caiu... a alma fugira, chorava também num choro depressivo, numa tristeza que lhe consumia todas as suas forças, desejando poder deixar de respirar e partir com ele... ajoelha junto de um buraco por tapar.
Foram lembranças... a primeira palavra, o primeiro passo, os risos e sorrisos, as quedas e as aventuras que tivera, que lhe surgiram na mente sem dono, ao ouvir aqueles risos tão inocentes, que lhe perfuravam os ouvidos e a enchiam de uma raiva e desespero que só conseguia exprimir num choro de morte. Um choro que a leva até ela, e num suplicio de agonia, lhe pedia para que fizesse descer a foice sobre o seu corpo cansado do mundo.

E enquanto chorava as suas recordações preciosas nas teias da sua mente frágil, revivia-as uma e outra vez, e cada sorriso, cada palavra, cada passeio... um sonho, uma simples lembrança.
Não haviam sorrisos para dar, nem palavras que a poderiam salvar daquele poço em que vivia sozinha e nele assim desejava ficar.

Um fervor passou por todos, e nenhuma cabeça deixou de enojar, em parte, aquelas crianças tão alegres que podiam brincar e viver...

Já ninguém me ouve...
Já ninguém me lê...
Estou fechado sozinho...

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