domingo, 30 de outubro de 2011

Uma vida que marca...


Lembro-me de ser gozado pelo meu nome. (ó motoreta!)
Lembro-me de me sentir inferior na escola, de ter poucos amigos e de ser posto a um canto, pela minha professora.
Lembro-me de ter necessidades especiais na escola, e de ter explicadora na 2ª classe da primária.
Lembro-me de ter chumbado no 2º ano. De me apaixonar por uma rapariga, e de o meu amor não ser correspondido. Miudas ricas de nariz empinado...

Lembro-me de os meus pais me baterem e ralharem comigo, das indecições que tinham um com o outro em eu e o meu irmão fazermos a coisas.
Lembro-me de querer subir o monte e o meu pai deixar, mas a minha mãe aos berros a dizer que NÃO!.
Lembro-me de querer andar à "bulha" (a brincar - a sério) mais o pedro, contra um bando de garotos, e a minha mãe não deixar, e depois passado uns tempos, já dizia que sim.

Uma vida de incertezas...
Lembro-me de os meus pais me ensinarem a diferença entre o E e o P, e nunca a saber, e ficarem chateados comigo.
Lembro-me de me baterem, e de ter saudades deles quando ficava em casa e eles iam trabalhar.
Lembro-me de me assustar uma vez com a máscara que o meu pai trouxe um dia, e de continuar a ter medo durante mais uns 6 ou 7 anos. Tinha medo de a olhar e de tocar.

Lembro-me das minhas "tias", já velhas, que me obrigavam a fazer os deveres da escola.
Lembro-me de elas terem dezenas de puzzles e eu brincar mais o meu irmão.
Lembro-me da atmosfera daquele apartamento que mais parecia uma biblioteca enfiada algures noutro país, entre uma floresta mágica.
Lembro-me de roubar moedas debaixo de umas estátuas... se calhar foi por isso que morreram.
Lembro-me de os meus pais não brincarem comigo. De o meu pai dizer que ía só à casa de banho, e depois nunca mais voltava.

Lembro-me de a minha mãe cantar canções para dormir, enquanto o meu pai andava à caça de um morcego ou de uma coruja.
Lembro-me de a minha mãe e nós, vermos os desfiles de moda, e ela gozar com tudo, e dizer que o que elas traziam na cabeça, parecia um pequnico.
Lembro-me de me chatear com o meu irmão engolir a saliva e eu ouvir.
Lembro-me de sentir estranho, por pensar que toda agente no mundo tinha as orelhas diferentes uma da outra, quando na verdade.... era eu o único.

Lembro-me de todos os garotos na escola já andarem a trocar os cromos dos poquemons, e eu só receber as primeiras 4 saquetas uns 4 meses depois. Lembro-me de essas saquetas trazerem pastilhas, e eu guardá-las para mais tarde.
Lembro-me de brincar na terra, e de arrancar folhas das àrvores do meu quintal, para fingir que eram notas.

Lembro-me de as raparigas não gostarem de mim, e de ter umas paixonetas um bocado esquisitas.
Lembro-me de "sempre" o ultimo a ser escolhido pelos meus colegas para fazerem as equipas.
"-- Escolham-me a mim!! Eu sei que não jogo um peido mas ao menos escolham!"
Lembro-me de ser apontado pelos meus colegas, como a causa de serem sempre eles o alvo dos professores, e a desculpa de se portarem mal.
Lembro-me de ser gozado até aos 14.
Depois na proficional, lembro-me de ser gozado até aos 19.

Lembro-me "dos meus colegas de turma", me atirarem com pedras na estação.
Lembro-me de ter tido uns 8 cães, e todos terem morrido com causas que desconhecia.
Lembro-me de passar toda a minha vida doente da garganta, e de um dia ir para a escola sarapintado de iozina, e os meus colegas gozarem comigo.

Lembro-me de a minha mãe ameaçar o meu pai que queria o divórcio.
Lembro-me de o gritar à nossa frente tanta vez, que acabámos por começar a nem ligar.
Lembro-me de ter escrito uma vez na primária, num caderno, em resposta a uma pergunta:

"O que ouves fora da porta do teu  quarto?"
e de eu responder:
"Ouço os meus pais a ralharem um com o outro".
Lembro-me de o professor (Professor Dias), dizer que não era nada daquilo e apagar-me a resposta.
Depois escrevi o que todos os outros escreveriam:
"Ouço os pássaros a cantar, os carros a passar, o meu irmão a brincar..."
Mas os outros meninos eram todos filhos únicos...

Lembro-me de o professor me bater uma vez com os nós dos dedos na cabeça, mais os aneis que tinhas enfiado nos dedos e eu chorar, porque estava desatento.
Lembro-me de sair a chorar para ao pé da minha mãe, e de ela me dizer:
"E fez muito bem! E está calado se não ainda apanhas mais!!"
Lembro-me de não ser amado pela minha mãe, e ainda hoje tenho dificuldade em ver isso.
Lembro-me de não me sentir amado. De os meus pais me ensinarem a matéria da primária, e apenas do meu pai a explicar-nos a matéria de história numa quadro branco.
Lembro-me de ele me comprar uns brinquedos fiches, e de os arranjar com uns ferros, para não se partirem ou cairem partes do corpo. Os brinquedos que eu tinha...
Lembro-me de nos chamar ao quarto com os livros e de nos ler passagens. De nos explicar o significado.

Lembro-me de inventar uma história e de a mostrar ao professor.
Lembro-me de me sentir inferior e de não perceber as matérias, tão rápidamente como os outros.
Lembro-me de chorar por não conseguir fazer a letra perfeita.
Lembro-me de ser vita de bullying, na proficional, à frente dos meus professores, e eles não fazerem nada quanto a isso.

Lembro-me de os meus pais me contarem o ataque de raiva que a minha mãe teve um dia, e de ela rasgar "todas" as fotografias deles os dois juntos e as atirar da escadas abaixo em pedaços. Tudo porque ele nos queria levar a nós e à mãe dele, ao Portugal dos Pequeninos, mas não termos dinheiro para isso.
Lembro-me de ter medo da minha mãe, e de ela não me desejar as boas noites.
Lembro-me de ser apenas o meu pai a fazê-lo, enquanto a minha mãe se deitava.
Será que nos ama mesmo? Ou amava na altura? É muita coisa para fazer com dois garotos que não paravam um segundo...

Lembro-me de ela me dizer que tinha nascido com um sinal enorme nas costas, e que com o tempo ir desaparecendo.
Lembro-me de a despedirem. Lembro-me de a acusarem.
Lembro-me de um senhora PUTA como à merda, receber mais dinheiro que as outras funcionárias do ATL, e não fazer um peido. Passava os dias todos a limar as unhas.
Lembro-me de ter medo do escuro...

Lembro-me de ter um computador e de não lhe ligar nenhuma.
Lembro-me de uma vez na 3ª classe me calhar o planeta Plutão, e de me sentir bastante bem com a ideia.

Sinto que não vou ser ninguém, e que nem tenho nenhuma missão neste mundo.
Sinto que ninguém liga ao que eu digo, e que não sou importante.

Lembro-me de a minha "tia" morrer, e eu não sentir pena por isso.
Lembro-me depois, aos 18 anos, de sentir a falta delas, e de ter pena por elas não estarem comigo, para verem no que me tornei.
Lembro-me de todos os outros serem especiais e eu não.
Lembro-me de fazer anos no ultimo dia de aulas, e ninguém se lembrar.
Lembro-me de os meus colegas de 18 anos, na proficional, não se lembrarem dos meus anos, mesmo que os tenha avisado no dia anterior.
Lembro-me de os únicos dois ricos e inteligentes da minha turma, na primária, e no ciclo, terem direito a festa de aniversário e bolo na sala de aula, e os outros não.
Lembro-me de não saber inglês.
Lembro-me de calhar em turmas, onde era o alvo de gozo dos meus "colegas".
Lembro-me de ter ódio aos ricos, e ainda hoje tenho.
Lembro-me de o meu irmão me partir uns legos num ataque de raiva.
Lembro-me de ter pedido um quarto só para mim por causa disso, e de ter perdido grande parte das peças.
Lembro-me de ele ser mais alto que eu, de ter mais força que eu, e de uma vez, quando eramos mais novos, chorarmos agarrados.
Lembro-me de ele me ensinar coisas novas, e de ele perguntar à noite:
"-- Está ai alguém?".
Lembro-me de ver filmes de terror, e de sonhar, ainda hoje, os mesmos sonhos de quando era pequeno.
Lembro-me de a minha mãe me ter deixado fumar um cigarro dela, e perceber que fumar faz mal.

Lembro-me de ter vergonha, de ter muita vergonha.
Lembro-me de não ser amado no tempo certo.
Lembro-me de os meus pais me tratarem como uma criança com idade acima da que já tinha. De me tratarem como se fosse mais velho.

Lembro-me de continuar a brincar até aos meus 18 anos, com legos e outros brinquedos.
Sei agora que não tive a educação que devia ter tido. Tive a melhor educação a nivel cognitivo, e que mais ninguém teve.
Sei agora que os meus pais me deviam ter feito esforçar mais nos estudos, a ter uma boa alimentação, a sentir amor.
Sei agora que não devia ter estado esposto às zangas deles, nem às indecisões.

Os meus pais... estavam demasiado ocupados para nós, pois estavam cançados e a trabalhar para não nos faltar comer na mesa, nem roupa.
Mas faltou o mais importante... amor e carinho, e certas regras.

E é por me ter habituado a isto. À falta de várias coisas importantes como o estudar, que hoje tenho dificuldades, e que me estou a cagar para ele, mesmo sabendo que é importante!
Porque para mim, não estudar, é como eu saber que é a terra que anda à volta do céu.
Para mim é tão real não estudar, nem ser necessário esforçar-me, como o céu ser azul.
Mesmo que eu saiba que é importante...


Da mesma forma que eu pensava sobre as minhas orelhas. Acreditava piamente, que TODAS as pessoas no mundo tinham as orelhas diferentes um da outra. Era esse o mundo para mim.
Tal como o é às vezes. E hoje sei que estou errado, por VI que todos à minha volta as têm iguais, e que até são diferentes uma da outra.

Muitas vezes penso que sou metade o meu pai e metade a minha mãe, porque tenho a orelha de cada um. Mas ODEIO ser-lhes igual! ODEIO ser parecido, ou sequer parecer.


"-- Lembras-te de muita coisa ò paulo!"
Não! Apenas sei a vida que tive!! E sei que é por causa disso que sou assim. Estranho e estúpido.
É por saber e tentar compreender o que fui e o porquê, que me conheço. Ou talvez... que me compreenda...
É a forma que tenho em me conhecer e em saber o que deverei SER para que os meus filhos não sejam como eu.
Quero ser para eles, o que nunca ninguém foi para mim...

Lembro-me de o meu pai dizer:
"-- Aproveita para brincar enquanto és novo..."
Falta-me aproveitar a "vida". Falta-me vive-la. Falta-me senti-la.


Eu gosto de mim, mas odeio-me profundamente.

2 comentários:

  1. Quando é q sera q eu te irei pergntar "Lembras-te paulo do dia em que esqueces-te o passado e mudaste a tua vida???"

    Por muitas coisas más ou boas que nos têm acontecido são passado e o passado já la vai e so atrapalha um futuro como homens/mulheres e com uma mentalidade e bem estar com a vida.
    Podemos estar na merda, mas n podemos nos inferiorizar perante os outros. Ninguem é melhor!!! Nós somos o melhor de nós proprios n temos q mostrar a ninguem o quanto somos bons na nossa vida, quem se importa verdadeiramente já o sabe perfeitamente!

    ♪L

    (descobre quem sou) xD
    ;)

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  2. Não faço a mínima ideia de quem sejas.
    Mas até aposto que és rapariga.

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