quinta-feira, 30 de julho de 2015

Uma geração sem limites...


Antes de começar a abordar este tema, tenho de admitir que sempre critiquei os pais e esta geração de jovens que nasce com ipads, internet e telemóveis na mão.
Talvez por inveja, porque no meu tempo, na primária, não havia telemóveis, nem internet ou TV Cabo. Depois do ano 2000 só tinha telemoveis e consola de jogos quem era rico. Internet e TV Cabo? Era um luxo!

Mas como dizia: não me posso esquecer de que quando andava na primária, começaram a aparecer os primeiros Gameboys (a preto e branco com o tão famoso jogo: Pokemon) e a PlayStation. Anos mais tarde surgiu a internet e as crianças deixaram de ir jogar á bola.

A 3ª geração de Baby-Boomers, que nasceu no pós 1990 e 2000, apanharam uma sociedade já em grande desenvolvimento e mudança. Um mundo que se tornava a cada dia mais tecnológico, mais consumista.
Lembro-me do dia, num natal, quando o meu pai recebeu o 1º telemóvel, por volta do ano de 1995. Tinha eu nessa altura 5/6 anos e acabara de entrar na escola primária. O meu pai não tinha dinheiro para comprar um, mas quem lho ofereceu tinha dinheiro para comprar mais 3 ou 4.
Por isso, quem tinha acesso a um, na altura, podia-se gabar de um luxo que nem todos tinham.

Hoje os miúdos têm acesso a tecnologia que não tivemos na nossa infância e adolescência, da mesma forma proliferada e facilmente acessível como agora. E é precisamente esta facilidade e irreverência/irresponsabilidade ou imaturidade para com estas coisas com o qual crescemos a ver evoluir, como foi o caso dos Walkmans que mais tarde foram trocados por Leitores de CDs e pelos Headphones que se foram tornando mais pequenos e os computadores mais potentes e pequenos, acompanhado-os mais tarde os monitores dos mesmos, e o aparecimento de portáteis mais finos e potentes.
No entanto, esquecemos-nos de que somos também utilizadores "intensivos" -- uns mais do que outros --  destas novas tecnologias. Ninguém seria capaz de organizar e fazer a sua vida sem internet, telemóvel ou televisão, hoje em dia.
A facilidade que se tem em ver um filme, ouvir uma música, partilhar um poema ou ler uma tese é o ponto fulcral da nossa vida. Tudo gira à volta desta tecnologia. O tipo de actividade que os nossos pais da década de 60/70 tiveram é sem dúvida completamente diferente daquela que nós, dos anos 80/90 tiveram, mas somos hoje, alguns, mais capazes que os nossos pais. Hoje temos uma capacidade cerebral maior -- alguns nem por isso -- precisamente por termos recebido o estímulo de jogos mais interactivos e fáceis de manipular.
O que devemos ter em conta, é a facilidade com que as crianças que nascem neste novo mundo de interactividades de Homem-Máquina, se podem tornar viciadas a elas. É um mundo incrível que irá moldar o nosso mundo, por moldar a nossa mente, mas deve ser utilizado com precauções.

Este debate é um pouco como o Vinil vs CD. Ainda hoje em dia existem pessoas que preferem comprar em Vinil precisamente porque a tecnologia é melhor e mais fiável ao longo dos anos. Cada um tem a sua visão e opinião. Os seus prós e contras. Mas é importante percebermos que estes dois "opostos" servem cada um dos grupos alvos a que se direciona. Da mesma maneira que existe gente que prefere ler um livro num iPad e outros que preferem o toque do papel e o cheiro do livro.
Não é por serem "antiquados", mas porque existe um tipo de interacção completamente diferente. E são esses tipos de interacção, física e não apenas psicológica, que deve ser tida em conta quando os pais da criança estimularem e desenvolveram os interesses da criança.

Não posso deixar de tocar também num assunto que é a fotografia. Hoje tão facilmente acessível para todos. Numa questão de segundos, partilhamos fotos que tirámos naquele exacto momento. Já não precisamos de esperar 1 semana, ou duas, depois das férias acabarem, para as levar a um centro de fotografia e de as revelar. Poupamos milhares todos os anos.
Na altura em que estudava, já no 10º ao 12º ano, não havia sequer a ideia de tirar "selfies" a toda a hora, como testemunhei um dia na escola profissional onde estudei em que uma miúda de 16 anos, na hora do intervalo e dentro da sala, tirava uma foto a si mesma, com uns quantos colegas a estudar atrás. A facilidade e a falta de vergonha que esta nova geração emite é gritante para mim. Não perdíamos tempo com fotos a não ser que fossemos a sítios especiais, de férias, em grupo, ou viagens de estudo, de férias, o que não fosse habitual fazermos. Porquê? Porque o rolo tinha limites de fotos.
Já não sei como são as viagens de estudo destes novos jovens, mas quando ía, tentava sempre tirar algumas fotos ao local e a certos pontos de interesse ou então colocava-me em foco para ter uma "prova" de que estivera lá, para me lembrar de pequenos detalhes ou de algo que tinha gostado. Hoje provavelmente, durante toda a viagem e visita passam o tempo todo a olhar para os ecrãs, a enviar mensagens e a tirar "selfies". Acabando por tirar "fotografias" a tudo menos ao que é interessante para recordar um dia. Quando um dia tiverem filhos -- cruzes credo! espero que não!! -- estes jovens vão mostrar "fotografias" de locais lindíssimos escondidos pela sua cara a fazer caretas, com a língua de fora ou a fazerem poses, porque na altura era "cool" e todos faziam. Vão perder memórias. Vão perder emoções, sentimentos, amizades e valores sociais. Estarão para sempre ligados ao mundo mas sem realmente comunicarem com os outros de forma eficiente.

What Do People Do With Photos of Food?

A geração de hoje não enfrenta os mesmos limites que a minha geração enfrentou. Os gameboys só tinham 6/7 jogos e eram a preto e branco. Mais tarde apareceram a cores mas já se tinha de comprar jogos novos. Trocar pokémons, entre as consolas, foi uma coisa tão incrível e dispendiosa, que na minha escola primária só havia 1 ou 2 crianças, em quase 80, que tinham o cabo para o fazer.
Hoje nada tem limites. Numa questão de dias e semanas aprendem as mesmas coisas que eu levei anos a aprender, a descobrir e a pesquisar. A facilidade que têm em aprender inglês é outras das quais me deixa com uma tremenda inveja. Tive de aprender fora da escola, com a ajuda do meu pai, de alguns jogos (Magic The Gathering) e VHS da Rua Sésamo.
Passou a ser obrigatório todos terem o 9º ano, e anos mais tarde o 12º.
A minha geração viveu um tempo de ignorância, que só podia ser colmatada com livros da biblioteca pública ou privada e com documentários que passavam na SIC, ou para os mais sortudos: na TV-Cabo.

Os bonecos deixaram de ter o mesmo impacto. Aliás, julgo que as crianças já nem brincam, preferem passar o tempo em frente à televisão a devorar o mesmo DVD vezes e vezes sem conta ou a jogar no iPad/Tablet do pai ou da mãe. De sair para o shopping em vês de passar uma tardada de bicicleta ou a brincar, nem que seja num quarto de brinquedos.
Neste aspecto tenho de ser sincero. A minha geração, dos anos 80-90, testemunhou a melhor publicidade de brinquedos, que era feita pelo continente com a Lipoldina. Havia brinquedos para tudo!!! Vendiam-se legos muito mais baratos e os action-men compravam-se em separado dos carros, helicópteros e acessórios. Vendiam-se todo o tipo de brinquedos, cada um mais estranho que o outro. Hoje vendem-se mais telemóveis do que caixas de lego.
A falta de brinquedos na vida das futuras gerações irá criar um fosse largo e fundo de sentimentos entre as gerações anteriores; E talvez o mais gritante será a falta de respeito pelos objectos, pois serão tão consumistas e tudo se compra e tem com tanta facilidade que tudo é substituível e de pouco valor. Acrescentando a isso a falta de interacção com as outras crianças, que sempre ajudou a desenvolver a nossa comunicação com os outros. A sociabilização torna-se algo desnecessário ou secundário.
As crianças já não perdem apenas tempo com desenhos animados, o resto da sua infância ocupam-no com actividades físicas, internet e jogos no telemóvel.
Tudo o que têm hoje é apenas vontade de tirar "selfies" e ser sociável. Terem valor na sociedade, sem saberem que as memórias e os momentos "únicos" e especiais irão durar mais que uma foto parva tirada num momento estúpido de "tesão de mijo" ou um jogo no tablet que de nível em nível se repete infinitamente sem criar e desenvolver o pensamento abstracto, analítico e a imaginação.

Li algures, que devido ao elevado uso de internet, a interacção social tem diminuído drasticamente, e que com isso, os jovens e os adultos, por falarem e partilharem-se cada vez menos têm-se tornado autênticas crianças, rabugentas, enervadas e stressadas porque ninguém lhes dá valor ou atenção. Começam então a ter atitudes de putos, exigindo e chorando, tornando-se caprichosas e manipuladoras para seu próprio bem. Só pensam nelas porque ninguém faz "likes" nas suas fotos.
A facilidade de partilhar pensamentos contribui em muito para o amadurecimento de toda a sociedade e do próprio mundo, mas quem sofrerá a longo prazo serão estas e as próximas gerações; Que ao invés de mexer na terra, subir às árvores, brincar com bonecos e desenhar, escrever, ler, vão ser fechados em casa pela sua saúde e segurança, alimentando-se de uma publicidade corrosiva que empobrece e empodrece o pensamento de quem a vê.
Aquilo que as pessoas do "Agora" conhecem, é o que passa nos 4 canais da televisão. E se passa, é porque deve ser verdade, e se é verdade é importante.
Estas novas gerações são mais fáceis de domesticar que as anteriores. Se surgi-se uma nova ditadura, Portugal nunca mais se ergueria de novo, num 25 de Abril.

Uma das coisas que faz falta a esta nova geração e sociedade é precisamente aquilo que já tem em abundância mas que não sabem usar nem explorar. Capacidade de argumentação, de expor os seus pensamentos e emoções, quer por palavras verbais que por escrito.
Esta geração já não escreve nem lê, envia mensagens. Já não faz pesquisas nem se interessa em aprender, vai ao facebook que lá há sempre links com estudos da treta e conclusões duvidosas e inconclusivas.
Frequentam a escola, a única "casa" onde aprendem de facto alguma coisa. Não tem educação, porque os pais não a sabem dar e gostam de dar liberdade aos seus filhinhos porque... "É criança... Está na idade".
A falta de música, nomeadamente a variedade, faz-lhes falta. Se eu tivesse passado toda a minha adolescência a ouvir música de pretos, pop e outras porcarias que passam nas rádios de hoje em dia, de hits (disparos) que nos atingem e furam a capacidade de raciocínio, também eu seria problemático como a geração de hoje. Mas felizmente conheci música que me ajudou a extravasar toda a imaturidade, ódio, raiva e confusão sexual sem ter a necessidade de exteriorizar física e verbalmente sobre outras crianças e adultos.
Tive também desenhos animados, em que 80% me ensinavam alguma coisa e outros 20% tipo dragonball, em que podíamos lutar com criaturas no nosso cérebro.
Havia bonecada para tudo e até com as Barbies brincávamos. Cheguei a aprender a fazer roupa para os meus actions-man, a fazer utensílios e armas.
A minha geração, do pré-1990, teve a maior diversidade em brincadeira e cultura geral que alguma vez alguém teve na história da humanidade. Foi quase uma época de Iluminismo. A década de 90 para quem nasceu na de 80, é relembrada ainda com grande nostalgia.
Nós não nascemos com as coisas já nas mãos, muitos de nós mereceram-nas pelas notas ou compraram com o próprio dinheiro.
No meu tempo a minha mesada era para bolos e brinquedos. Aprendi a poupar, se queria alguma coisa. Não tinha telemóvel e quando o tive raramente o usava; E ainda tinha de ter cuidado com o dinheiro que gastava em mensagens, porque se não sai-me da mesada!!!
Hoje têm tudo de mão beijada. Não lutam nem precisam de lutar por nada do que têm nem do que querem ter.


Mas também existem podres na minha geração. A nossa geração, viu a maior taxa de divórcios de que há história. Uma parte tão sombria como a própria inquisição, o que explica o excesso de liberdade que os papás, filhos de país divorciados, dão hoje aos seus. Como não tiveram "amor, carinho e atenção", mas tiveram as maiores regalias por serem comprados por cada um dos pais para que o filho gostasse mais de um que do outro, hoje esbanjam e mimam de forma aberrória os seus filhinhos queridinhos, que não têm culpa, que "estão na idade" ou "é da crise".
Se não querem, não os tenham. Mas também não adoptem por amor à sociedade decadente e em apodrecimento de cultura.
Têm acesso a tudo, menos a inteligência a maturidade.

Não sabem estar, não saíam se casa!

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