quinta-feira, 2 de outubro de 2014

O desconforto do teu sorriso...


Ali estava, de cara série e olhar fulminante, sem nunca desviar o olhar dos meus olhos, dos meus gestos e do meu corpo. Como se tudo o que eu fizesse lhe metesse raiva, nojo e desconforto.
-- Está tudo bem? -- perguntei-lhe preocupado. Tirei o casaco e pousei-o no cabido junto à porta. Deparei-me então com umas malas a rebentar pelas costuras e percebi que algo não estava mesmo bem.
-- O que se passa Joana? -- perguntei, aproximando-me da fera pronta para me devorar.
-- Quando é que me ias contar? -- gritou-me atirando com um pedaço de papel meio rasgado e escrito a azul. -- Achavas que eu era burrinha não!? Que não ia descobrir nada!?
-- Do que é que estás a falar?
-- Do bilhetinho! Do bilhetinho da menina Inês!
Apanhei o pedaço de papel e li as letras amaçadas. Senti um estalo forte na cara, que me atirou à parede.
-- És nojento! Odeio-te! Como foste capaz!? Como foste capaz de nos fazer isto!? Pensaste em nós enquanto a estavas a comer? Pensaste ao menos na Beatriz!? Na tua filha!?
Esmurrou o peito com força, onde na noite anterior pousara a cabeça até adormecer. Criando um monólogo de palavras à volta de um assunto que a perturbava no trabalho.
A raiva dela penetrava-me o tronco como um dedo que apontava na mente as grandes desilusões que ela ainda desconhecia e que me deixavam a cabeça em água. Senti um nó no estômago e uma indisposição tão forte que parecia desmaiar. Se desmaia-se, será que ela me acudiria?
Respirei fundo, agarrei-lhe pelos braços que se agitavam no ar para a tentar acalmar, mas ela tinha mais agilidade que eu e soltou-se, respondendo com um forte estalo. Olhei-a de frente.
-- Atreve-te a bater-me! Atreve-te só! Bates-me e nunca mais a vez! -- ameaçou-me, apontando em direcção ao quarto dela. -- És horrível! Como é que eu pude casar com um homem como tu!? Tu nem és um homem! És um porco! És nojento!
Agarrei-lhe o dedo que me apontava à cara e aproximei-me.
-- Achas-te uma santa não achas? Só eu é que sou mau... E tu!?
-- Eu?
-- Sim, TU!
-- Eu pelo menos nunca me atirei a nenhum homem!
-- Não...
-- Nem nunca fui para a cama com outro se não tu! E não! Mas não preciso de te provar nada! Devias ao menos ter-me respeito, a mim e à minha filha!
-- Tua? -- ri-me -- Vê lá se páras para pensar! Se pedires o divórcio ficas sem nada, a não ser o dinheiro de sobrevivência para a Beatriz! E isso não te paga as saidas com as tuas amigas, a escola e um apartamento.
-- Não te preocupes comigo, eu cá me arranjo!
-- Ainda gostava de saber onde foste buscar a ideia de que te andei a trair com uma Inês.
-- Não fui buscar ideia nenhuma! Bastou-me encontrar esse bilhete de merda na porcaria do teu casaco quando o pus para lavar que liguei logo os pontos todos! As noites no trabalho. Os dias em que chegavas tarde a casa. A falta de interesse pelo sexo, pelo meu jantar, ou as já poucas brincadeiras com a Beatriz...
-- Os filmes que tu fazes na tua cabeça... -- gozei um pouco. Empurrou-me com força e apontou-me de novo o dedo à cara.
-- Mas estás a gozar comigo!? És um merdas! E eu que acreditava que eras diferente dos outros! Que podia ser finalmente feliz... mas parece que fui bem enganada. Tantos anos ao teu lado, desperdiçados. A única coisa bonita que saiu desta "relação" foi a Beatriz. Cresce! A sério! Bem precisas.
-- Foste feliz porque eu aceitei muito das tuas merdas! É um jogo de interesses, habituate! Eras gira, achas que ia perder a oportunidade de foder um cu desses!? -- levei outra estalada.
-- Cala-te!
-- Só pensa o contrário quem é paneleiro... Uma mulher como tu deve estar nas mãos de um homem que a sabe aproveitar, por isso, estiveste nas minhas! Como se costuma dizer: "O dinheiro deles, está bem é nas minhas mãos!".
-- Não acredito nisto... És mesmo estúpido! Vai-te embora! Já te fiz as malas e tudo! Vai-te! Anda!
-- Não faças mais figuras tristes Joana. Vê se te sentas e se ponderas bem no que estás a fazer.
-- Não preciso de pensar em nada! Já pensei em tudo o que tinha a pensar! Agora põem-te daqui para fora! Não te quero voltar a ver mais à frente! E aí de ti que te aproximes dela!
-- Estás-me a ameaçar!? Cuidado, isso é crime!
-- Põem-te na rua, ou eu chamo a polícia!!! 
Aproximei-me. Agarrei-a contra o meu corpo e tapei-lhe a boca.
-- Atreve-te! -- segredei ao ouvido.

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Estes erros ortográficos matam-me...
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2 comentários:

  1. Fiquei confusa com o final do texto... Principalmente com a parte dos erros ortográficos. Onde querias chegar?

    Quanto ao texto... É a realidade de imensos casais hoje em dia. Demasiados, talvez.

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    1. Com os "deves-te" ou "deveste", etc.

      O texto, tem algo mais...

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