quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Deslumbre de momentos esquecidos...



Despes a camisa, tiras o sutien e deitas-te de costas na cama, por dentro dos lençóis. Soluças, sentes um nó na garganta e ficas vermelha. As lágrimas escorrem pelo teu rosto que se contorce em dor e incompreensão. Movimentas os olhos no tecto branco do teu quarto, pensando no que dizer, no que fazer.
Esperas então um palavra minha, um gesto, um som, uma expressão. Empatia. Ao olhares para mim, sofres e engoles as forças que não tens. Que deixas fugir, que deixas esconder daquele momento tão frio e distante. Um olhar que te fragiliza, te quebra e desespera.

As meias aqueciam-te os pés e as pernas até ao joelho. Mas as mãos, frias, contorciam-se e encolhiam-se numa dor aguda. Desejavas poder ser tocada, acarinhada. Desejavas que me sentasse do teu lado, de olhos nos olhos e te desse a mão, os lábios e o meu corpo. Desejavas...
Viraste-me as costas e rebentaste-te em lágrimas. As mãos frias taparam os olhos, e a dor que tanto tentavas acariciar na tua mente. As costas tornaram-se um muro frio, teso e rijo, frágil, à espera do aconchego de lençóis.
-- Vais embora, por favor?! -- perguntas-me quase olhando pelo ombro.
-- Não.
A palavra ecoou nos teus ouvidos, como um murro forte no estômago que te faz perder o fôlego. Uma palavra que se transforma num pânico torcido de memórias sensíveis e dolorosas. Com a visão de outros lábios tocarem nos meus e veres prazer onde deveria haver nojo.
-- Vai! Por favor... Sai daqui! -- gritas-te.
-- Não vou a lado nenhum.
As palavras voltaram a pesar e levantaste-te da cama, com a raiva expressa no rosto. Chegaste-te junto de mim e empurraste-me com força. Bateste-me no peito. Senti a tua força fazer vibrar a firme concha que criava ao meu redor.
-- Sai! Vai-te embora!
A tua face dolorosa, molhada, tentava enfraquecer o que já era fraco. As minhas mãos agarraram as tuas, o coração abriu sem chave, e agarrei-te contra mim enquanto choravas.
-- Deixa-me...
Nas costas do teu pensamento, surgem sonhos que fantasiaste. As cores apagam-se com as tempestades da amargura. São espinhos profundos, de saudades que nunca tiveram por ti. Histórias e imagens que transformas-te em fábulas e não realidade. Desejavas grandiosamente, por um dia que fosse, sentires-te viva, aconchegada e ouvida. Por um dia, por um momento. Um momento que lembrarias para sempre nas costas do teu coração. Escondido. Um sonho que desenhas-te desde o primeiro sorriso, e que com a chuva dos olhos, o apagavam, te faziam esquecer. Sofrer.
-- Só me magoas! Odeio-te!
Olhas-te-me de alto a baixo e penetrando-me zangada, com uma última investida envolta em gritos de saudade e medo, libertaste-te, vendo-me então pávido, sem reacção.
-- As coisas que eu fiz por ti, talvez não tenham sido as mais indicadas, as mais correctas ou as que mais desejavas, mas sempre dei de mim, o melhor que merecias, o melhor que sabia. O melhor que uma pessoa fria e estranha como eu, soube dar. Reconheço em mim erros que me conquistam as vitórias. E derrotas que ultrapassam o sucesso.
A tua expressão suavizou na cara manchada de raiva, na cara fervorosa e impaciente para sentir um carinho na bochecha. Segredavas aos teus ouvidos, o desejo ardente de te abraçar e pedires desculpas.
O meu rosto aquecia-te as mãos pelos pensamentos, os lábios molhavam os teus através do desejo, e a minha expressão aproximavam-te devagar.
Iluminado, o espaço pareceu desfocar-se à nossa volta. Admirando, tu, o sofrimento que transparecia, limpaste-me uma lágrima com o polegar. Fechei os olhos por uns segundos, enquanto o suave dedo deslizava sem medo. Conhecias-me os vales e as estradas desta face tenebrosa. De um anjo arrancado de amores. Tocaste-me, como não nunca ousas-te tocar-me, olhaste-me como nunca conseguiste olhar-me e com um sorriso sofrido no rosto disseste o que eu sempre ouvi mas nunca senti.
-- Perdoa-me.
-- O que fiz eu para me quereres tanto mal? O que não te dei eu para me tratares tão mal? O que esperavas encontrar? O rapaz bon...
-- O teu sorriso... -- interrompeste -- a tua garra de lutar pela vida! O teu amor e o teu ódio! Esperava encontrar compreensão na tua dor, e felicidade nas tuas palavras, nos teus gestos...
-- Fui só mais uma experiência para ti?
Abanas-te a cabeça levemente.
-- Não, meu amor... -- deixas-te os olhos brilhar e a paixão por mim fluir-te na cara, no corpo, nos gestos -- És o puzzle que sempre desejei montar. A peça perdida que deixei cair e nunca soube apanhar. Faz-me sorrir como sempre fizeste, abraça-me, beija-me, apalpa-me e agarra-me! Sou feliz contigo, porque és o que sempre procurei.
Um pequenino momento, manteve-se em silêncio, acanhado, envergonhado, de olhos arregalados à espera de ver o desfeche das tuas palavras, ansiando a tua voz doce e vibrante, alegrarem-no como cócegas.
-- Oh mãe... Olha ela! --  gritas-te, um gracejo intimo de felicidade.

Porque continuo ao teu lado?

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