Num jantar em casa de uns amigos dos meus pais, a mãe e a filha, um dos convidados, sentavam-se no sofá, e com um telemóvel a pequenina carregava nas teclas e fingia falar com amigos imaginários. A mãe ajuda a tornar real aquela pequena e "inocente" fantasia.
Nas emaranhadas conversas entre mãe e filha, houve um pedido da mais pequena, que me chamou a atenção.
-- Mãe, diz-lhe para vir depressa!
-- Vem depressa!
A doce bolota, sabia que se fosse ela a pedir directamente, que o "amigo" poderia recusar ou vir ainda mais lento só para brincar. Ao colocar a mãe na conversa, adicionou um adulto à equação, uma autoridade, uma voz que se faz ouvir quando quer ou quando as coisas não correm bem.
Sabia ela então, que o adulto teria mais força. A criança reconhecia que não tinha autoridade nem poder para "obrigar" os outros a fazerem o que mais queria. É por isso que às vezes vemos crianças a pedirem aos pais para que os irmãos brinquem com eles, que alguém se cale, que venha mais depressa ou queira ir embora. A criança "inteligente", reconhece de uma maneira muito simples, mas sem qualquer consciência desse sentimento, que o adulto tem muita força, e inerente a essa força, escravo dessa força, ficam as crianças.
Reconhecem por vezes, uma confiança no adulto, que tentam imitar, mas de pouco lhes serve em crianças mais casmurras ou sem educação.
A criança reconhece que é pequena no mundo dos adultos, que pouco ou nada pode fazer por si. Que pouco pode fazer para "controlar" o ambiente à sua volta. Criando por vezes crianças frustradas e sem vontade de fazer as coisas, ou muito irrequietas, como animais enjaulados que saem uma vez por outra do seu meio ambiente emocional para algo completamente aberto e cativante. Aí, a criança "explode" de movimentos, palavras e acções que os pais não reconheciam ou desconheciam a sua existência.
Porque devemos sempre incentivar uma criança a fazer as coisas por ela e por iniciativa, mas também incentivá-la quando as coisas são mais difíceis para ela mesma.
É preciso não dar demasiada confiança à criança, para que ela não transforme tudo à sua volta numa autêntica uma anarquia de livre arbítrio, mas também mostrar-lhe que pode e tem poder para começar e ir começando a decidir certas coisas. É quase como fazer uma mistura com o peso correcto dos ingredientes sem ter qualquer balança ou medida. No entanto, como já disse várias vezes:
Dá trabalho? Dá! É difícil? Ui! Nem imaginam! Mas vale apena o esforço...
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