quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

A vontade de morrer...


É de noite. As cortinas iluminam-se pelo candeeiro da rua, que ilumina a parede do meu quarto. O silêncio aconchega a solidão do meu corpo, coberto de lençóis finos. Não há rangidos, relógios em tic-tac, o frigorifico a trabalhar ou luzes a piscar. Não existe som, se não o dos carros lá fora, lá embaixo no asfalto velho. Estou sozinho, na noite mais fria da primavera.
Vivo na morte de mim próprio, na saudade do que fui, na tristeza do que não tive, na raiva do que nunca consegui ser. Vivo, sem saber viver, sem saber ser; sendo apenas aquilo que se encaixa melhor no que sofri: a desilusão e o abandono.
Não há velas na minha escuridão. Não há cordas para me tirar do poço, nem escadas que possa subir. Respiro vagarosamente, com o calor a querer escorrer-me do corpo, exausto de mim, das minhas ideias e torturas. Sinto o lençol roçar-me o peito e as mãos frias regelarem-se com os dedos dos pés.
Há monstros debaixo da minha cama, na esquina amaldiçoada do meu roupeiro, dentro das gavetas e para lá do espelho. Tento adormecer, fechar os olhos, descansar o corpo e a alma, mesmo por uns pequenos segundos, mas estou sozinho, num quarto que tranco à chave. Vivo sozinho, algures dentro de mim. Sou a depressão vivida de uma morte que se avizinha.
Um carro passa, sem levar de mim o sentimento da tristeza. Alguém existe mas não sabe que aqui estou. Ninguém sabe que sofro, que choro e grito nas profundidades do meu corpo torturado que se aguenta, dia após dia, à dança funebre.
Quem me ampara as quedas que tomo?
Quem me abraça quando choro?
Quem sorri comigo?
Quem me quer ver feliz?
Se tiver de partir deste mundo, que seja sem voz, sem diários, sem recados ou abraços. Sem lágrimas, sem dor, sem pistas para onde fui. Se tiver de viver o resto da minha vida encarcerado, longe do que sonho, viverei sem vontade de existir; E essa, é a maior dádiva que receberei do meu nascimento.

A vontade de morrer...

Sem comentários:

Enviar um comentário