quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Não sou histórias repetidas...


Sabem aquelas histórias, tristes da vossa vida, ou as loucuras que já fizeram, que contam vezes e vezes sem conta a todas as pessoas que conhecem? Eu tenho uma radio-cassete cheia dessas histórias.
Conto-as várias vezes, tanta vez, que já lhes tirei os pequenos pormenores. É uma palestra tão monotonamente decorada que estou tão farto de repetir que nem sequer me apercebo que só hoje as repeti umas duas vezes.
Talvez seja só eu. Talvez seja de mim. Uma tentativa atrás da outra, na esperança de me ligar a alguém que me compreenda, ou só mesmo que me ouça. Quero ser ouvido? Ou quero que tenham pena de mim? E aprenderem comigo, não era melhor? Falsamente é nisso que acredito; Que as minhas histórias são experiências. Mas estas experiências não têm grande valor na verdade. Ajudaram-me a crescer, é certo, mas hoje são só um disco riscado que ouço e conto sem pensar, porque me habituei à infelicidade do que sou enquanto história de mim mesmo.
Eu não quero ter cassetes, não quero ter histórias destas, quero aventuras! Quero coisas únicas, algo que ensine, que faça rir, que entretenha. Quero contar os meus fracassos aos meus filhos para que eles aprendam através de mim, mas que estes fracassos não façam só parte daquilo que sou.

Eu não sou só esta tristeza.
Eu não sou só estes desamores e sofrimentos.
Eu não sou apenas um jovem amargurado.
Eu tenho incertezas como todos os outros, mas não vivo apenas delas.
Eu sou mais do todas essas cassetes decoradas. Sou uma palestra interessante, acredito.
Sou interessado em aprender, em lidar com crianças, em cozinhar, em amar, em ouvir, em argumentar, em escrever, em fantasiar, e em mil e muitas coisas.

Quero deixar de contar as histórias de experiências falhadas, pois tudo o que sou aos meus olhos não passam de 5/6 contos que comandam as minhas acções. Sou mais do que isso. Muito mais...
Sou capaz de tanta coisa e foco-me apenas nas que me deixaram triste ou frustado. De qualquer forma fico feliz por mim, porque sou capaz de ver o problema de várias perspectivas. De desmontar a ideia e trabalhar em algo diferente. De criar um argumento melhor, solidificar a minha opinião ou emparedar um gosto caricato.

"Who are you? You are not you'r age, color, ethnicity. You'r not possessions, hobbies, believes. If you take away everything you have identify your self with: family, kids, everything; What would be left? who are you?" - Pig (2011)"
Em: O sofrimento do mundo...

Mas lá no fundo, o que sou sem tudo isto? Um conjunto de sentimentos e experiências? Sou o impacto que causo no mundo? Sou o que faço e recebo dos outros?
Na realidade, espremido, não sou nada... Existo apenas na minha mente. Existo apenas nas minhas histórias. Existo num vazio sem sentido, tal como este texto.

Não sou histórias repetidas, sou os bons momentos que ainda não tive oportunidade de contar.

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