segunda-feira, 8 de junho de 2015

A visão derreteu-se num sopro... [2]

Para lá das nuvens pintadas de vermelho, acima do inferno que começava uma caminhada confiante na terra, surgiram os anjos. Pele branca, despida, sem sexo, sem face, emitindo uma luz que iluminava a sua assombrada natureza humana, coberta do sangue corrosivo jorrando do chão, tocando o seu reino nos céus. As labaredas trocavam as nuvens, iluminando a obscura sentença desta alegria devorada. A terra parecia ter descido às suas entranhas.
Um lamento preencheu-lhes os pulmões, tentando conquistar o ar. Pompeia explodiu, arremessando sobre eles, detritos e um rio de lava que cortava o algodão suave debaixo dos seus pés. A cascata de forte corrente levava consigo os anjos aterrorizados, envoltos em gritos arrepiantes. Deus não os podia salvar. Perderam a sua inocência e o seu paraíso. Perderam-se; Para sempre.
As escadas douradas para o paraíso, pintavam-se de preto, degrau-a-degrau, casco-ante-casco, numa subida que Satanás fazia vagarosamente, deliciando-se, maravilhando-se, sobre um campo de batalha de buracos ruidosos, de onde fugiam almas torturadas de formas infinitas; Cada uma arrastando consigo uma corrente cujo o peso as prendia aos fogos do covil do seu verdugo.

O cântico surgiu de novo no ar, confrontando por fim, a meio da caminhada, o rei da escuridão. Sem nada para dizer às concubinas do grande Senhor, sorriu. No peito do guardião da luz, que ousava pairar à sua frente, um circulo de escuridão cresceu, envenenando todo o seu corpo, que santificado se transformava em mármore, aparentemente rijo, mas inevitavelmente fraco, tal como a mente do seu amo, acabando por se espalhar no ar como pó com a simples brisa dos gritos rasgados a biliões de quilómetros de distância.

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Ideia: 20-05-2015
Inicio: 01-06-2015

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