quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Evoluímos ou Evoluímos-nos?



Quem trabalha e faz trabalhos com madeira, costuma dizer que a madeira dará o objecto para o qual nasceu para ser.

Nesta pequena curta-metragem, um objecto de madeira com características humanizadas, cria um retrato do seu oposto.
O ponto importante neste pequeno filme, não é apenas o facto de ensinar de uma forma muita fácil e transparente, que não devemos mudar ou moldar à força quem amamos, mas sim também, a razão de um objecto criado "humano" ser capaz de criar através da sua imaginação, sonhos e fantasias, o seu oposto. Um oposto que nunca viu e que nunca conheceu.
É então razão para dizer e constatar, que apesar de nunca termos visto algo, não quer dizer que não exista ou que não possa ser inventado. Mas isso significa que a ideia "abstracta", foi-nos implantada através de "poder divino", ou foi algo que realmente teve origem nas profundezas da nossa mente?
Sendo todos os animais capazes de sonhar, de recordar, de reconhecer e se adaptar, mesmo que apenas psicologicamente, significa que são também eles criadores de ideias abstractas? De dar origem na sua mente, no céu cérebro consciente, imagens que nunca viram?

Existe uma espécie de macacos, capaz de criar/inventar, desenvolver e aperfeiçoar ferramentas. Mas segundo os cientistas, têm dificuldade em passar à geração seguinte essa informação. Será, porém, que a sua capacidade "única" de transpor fisicamente uma ideia inexistente na matéria do cosmos, ser de origem divina e não através de um processo evolutivo no qual teve origem, não só o seu instinto de sobrevivência que obrigou a desenvolver planos de fuga ou de conseguir visualizar antecipadamente a sua rota de fuga, mas também em tornar eficaz uma tarefa? Como comer ou correr?
Não é no fundo, no fim e ao cabo, a evolução, uma construção, degrau a degrau de inovações? De uma melhor capacidade de previsão de uma acção, como por exemplo do tempo ou de um trajecto de fuga entre uma densa floresta?
Não é também uma evolução psicológica e emocional de ideias e pensamentos? Que de geração em geração se tornam mais nítidas e fáceis de compreender?
Significa então que é o nosso cérebro que nos adapta? Que não é a exigência do ambiente mas a capacidade que todos os seres vivos são capazes de objectivar, planificar e criar do nada, uma solução e/ou uma alternativa para aquilo que vêm?

Colour is in the eye of the beholder
Horizon - Do You See What I See (Part 1)
Horizon - Do You See What I See (Part 2)
Horizon - Do You See What I See (Part 3)
Horizon - Do You See What I See (Part 4)

Segundo o documentário "Do You See What I See" produzido pela BBC Horizon, as cores que o nosso cérebro consegue ver, encontram-se ligadas ao nosso vocabulário. Quanto mais nomes formos capazes de dar a cada cor, melhor será a sua visualização.
Comprovando que não é o ambiente que nos evolui, mas a mente.

Sendo então a resposta a uma pergunta que nunca foi feita e que por essa razão não existe:
Só somos de capazes de manipular o que nos rodeia, quando formos capazes de o entender? Quando consciencializarmos intrinsecamente que uma pedra não é só uma pedra, mas uma ferramenta de caça?
Que um conjunto delas não servirão apenas para enterrar os mortos, mas também para edificar um abrigo contra o vento, a chuva e o frio?
Só avançamos na árvore da evolução, quando na nossa mente der algum tipo de "clique"?

Explicar psicologicamente, a capacidade que este objecto humanizado teve para criar alguém seu semelhante, torna-se difícil, a partir do momento em que tento perceber de onde e como surgem os meus sonhos, principalmente aqueles que nunca vivi. Isso não é capacidade de projectar um pensamento no futuro, é algo muito mais.

Se mudar alguém não deve ser um objectivo da cara metade, melhorá-la não será a mesma coisa? E se então não há maneira de duas pessoas interagirem de forma positiva, isso impõe duas questões.
A alma gémea não se tornará com o tempo, um aborrecimento? Porque, se gostam de "tudo" e fazem "tudo". Esse entusiasmo e todas essas experiências têm uma razão para existir? Não evoluímos através da partilha de informação e da educação dos iliterados?
Como poderão duas pessoas conviveram se a maneira como vêm e sentem o mundo não pode ser aproximada através de um melhoramento da psicologia do outro? Se não há partilha, se as arestas não são limas, como poderão duas peças coe-existir? Não está em causa a leia da atracção, mas a capacidade emocional, mais do que psicológica, de suavizar as nossas decisões, ideias e opiniões.
Mas... significa então que deixaríamos de ser nós mesmos, apenas e só para um "bem maior"? E neste caso, o que está em casa? A sobrevivência da espécie ou uma escolha emocionalmente egocêntrica e instintivamente social?

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Adoro ouvir-te, ver-te e cheirar-te...

A casa espaçosa, vazia do som do meu mundo, iluminava-se pelas estrelas que pintavam o negro manto da solidão. A calma pairava no ar, sentindo-se como um sussurro partilhado entre dois predadores, à espera do momento certo para atacar. Através da ampla janela, via a fúria do vento dobrar as árvores do outro lado do rio. O vento levar com força a água e levantar no ar as folhas mortas. De vermelho, surgia a lua, entre nuvens que rompiam o céu com trovões longínquos, gritando pelo ar o seu rugido tenebroso. Um som arrepiante que nos fez enraizar na espinha, os nervos que nos fazem tremer de medo.

Do outro lado da sala, lá fora, onde a chuva começava a arranhar a porta, ouvi o carro dela chegar, como o ronronar de um gato que não desiste de colo. Como uma prenda de natal que se esconde debaixo da árvore ou numa gaveta antiga, à espera do seu momento. Na minha barriga senti as borboletas. Continuo a ser o homem que vibra cada vez que entras numa sala. Cada vez que sorris para mim, me beijas, abraças, ou agarras na Joana como se fosse um avião. Cada vez que vos vejo brincar, é como se voltasse à casa da criança, sentindo inveja por não ser eu a ter aquele brinquedo ou a brincar com aquela menina.
Entraste em casa, e como todos os dias, penduraste o casaco. Com um puxo apanhaste o cabelo e tiraste os sapatos à miúda reguila.
Percorreste a sala em direcção à cozinha, e num piscar de olhos, o teu corpo parou, tornou-se pálido. Um arrepio desceu-te pela espinha como uma faca afiada. À tua frente, estava eu. Com um grande sorriso na cara e uma lâmina prateada na mão. Da escuridão que te enegrecia a mente, só conseguias ver os meus olhos, por baixo da máscara de carnaval.
-- Boa noite amor... -- recebi-te.
A tua expressão facial era orgásmica! Cada músculo parecia contorcer-se de medo, enquanto o pestanejar desaparecia com o meu aproximar calmo e sereno.
-- Joana! -- gritaste esganiçadamente, correndo pela casa como uma galinha sem cabeça, à procura da tua pintainha. Os teus pés ecoavam pelo soalho, num murmúrio que exteriorizava aflição. Presegui-te então como um fantasma de uma casa assombrada, fazendo sentir a minha presença através das botas pesadas pelas escadas acima. Os teus gritos vibravam nos meus ouvidos, uma melodia harmoniosa que se abraçava ao choro do teu passarinho escondido entre os teus braços tão sexys.

A tua aflição acalma-me e a tua filha excita-me...



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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O caranguejo que viu o mundo morrer...



No horizonte, subia sozinho lentamente entre nuvens no céu azul, um Sol como nunca antes tinha nascido. A manhã escura, naquela praia invadida por pedras negras, iluminou lentamente a conquista que a natureza construía em cada buraco e saliência do paredão natural.
A maré subia com a luz, vagarosamente, em silêncio. Não se ouvia o vento nem a natureza, as aves ou as árvores. Por entre o rebentar das ondas, sentia-se o vazio do planeta. Não havia criaturas por perto para testemunhar o silêncio, se não o único caranguejo laranja que surgia inesperadamente debaixo de uma das pedras submersas pela água.

Subia a costa de lado, e ao chegar a terra seca, virou-se de frente para a grande pirâmide que ainda bloqueava o Sol. As cores no céu, antecipavam uma dança sombria. A morte do mundo. A morte das coisas, do calor, dos amigos e dos inimigos, do vento e da chuva. Sem qualquer forma de saber explicar, sentiu dentro de si o fim. Invadira-o como uma calma, um pensamento vazio, um odor agradável e um conforto caloroso. Hoje, será o ultimo dia que verá o Sol. Será o fim da pesca e das caminhadas, será a extinção inaudível da árvore da vida.

A água tocou-lhe os olhos e a onda puxou-o com ela. Deixou-se levar, envolto no cobertor transparente que espelhava a ultima viajem das nuvens. A escuridão abateu-se sobre ele, sentindo-se esquecido numa morte fulminante das cores, voltando então a ser recebido em êxtase pelo círculo milagroso da origem da vida. O calor apertava-lhe a carapaça e afundou-se, descendo ao fundo do oceano que o germinou. Ao fundo que levaria de volta, por direito, as carcaças de uma enorme evolução natural.
E sendo Nak, fruto da imaginação de um humano, ao interiorizar o fim de tudo, choraria com medo do seu desaparecer invisível, da calma com que se tornaria mais um na grande extinção à escala global. Porque estar sozinho, no fim, seria uma das maiores dádivas merecidas por todo o valor que nunca trouxe ao mundo. Mas saberia reconhecer! Porque deslumbrar o ultimo dia do universo, sentir o ultimo raio de luz entrar nos seus olhos e logo depois a escuridão gelada que nunca foi capaz de imaginar, faziam-no, não um humano de consciência, mas um animal que no fim dos seus dias, sentiu o seu fim.

Numa viajem até às profundezas do oceano que o viu nascer, fugiu assim ao contar das horas, dos minutos e dos segundos que lhe levariam os sonhos e as memórias.
Lá em cima, onde o Sol subia os céus, e cada molécula podia vibrar com vida, surgia já velha a escuridão, pesando em cada piscar de olhos, os fardos perdoados. O pano do teatro do pó das estrelas, fechava-se assim, no esquecimento gélido pintado pelas galáxias longínquas.


É na morte, que a natureza ressuscita...

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O que és tu para ti mesmo?


Calquei o chão, negro, morto. Respirei fundo e senti uma calma apoderar-se dos meus ossos, levando-me ao chão como uma tragédia retirada de uma opera. Uma leve brisa passou pelo meu corpo, entre cada pêlo dos meus braços, no pescoço transpirado e carinhosamente entre as orelhas. A frescura que me enchia os pulmões, desceu pelas pernas como um banho de seda. Senti-o mais frio nos joelhos acabando por desaparecer entre os dedos dos pés que se descalçavam do cansaço entre a terra húmida revirada.

Sozinho, enfiado num buraco empestado de morte, pintado de uma depressão que não queria ver e viver. Rodeado por um vazio infinito, de betão e destruição. Levantei os olhos, pintados pelo choro do medo de para sempre ficar aprisionado e inspirei. Os olhos fecharam sem força e o cobertor negro caiu sobre mim, aquecendo cada parte do meu corpo com o esquecimento da nudez que me vestia. Deixei-me por momentos desligar daquele lugar maldito e quando abri por fim os olhos, re-encontrei-me numa floresta colorida, que se despia num tom amarelo e vermelho, através de folhas que dançavam em direcção ao chão.
Ergui-me, semeando com as mãos a terra que agarrava com força. Entre os dedos sujos senti um gelo trepar, provocando-me um arrepio pela espinha abaixo. Com alguma força, a criatura agarrou-me uma mão, com mais força a outra. Com o medo a afogar-me numa arfar intenso, olhei com coragem que não tinha para o meu lado esquerdo e encontrei pequeno, uma menina de cabelos encaracolados, de olhos grandes e com um grande sorriso no rosto. Segurou-me melhor, e senti algo respirar ao meu ouvido. Uma mulher, alta, magra, nua tal como eu. Com um sorriso ligeiro e doce, aproximou-se da minha cara sem nunca desviar o olhar dos meus e beijou-me como se aceitasse a morte entrar no seu corpo.

As duas olharam em frente, para o interior de uma floresta que escurecia até ao horizonte, e da mesma forma que me arrastara até àquele ponto, arrastaram-me elas até à escuridão do desconhecido que temia com tudo o que me tornava eu em mim mesmo.

Tudo o que julgas saber, faz parte de um jogo que criaste na tua cabeça. Tudo o que sentes em cada momento, é como uma pista que te faz esquecer as regras. Porque tudo o que te faz cair tem a mesma força daquilo que te ajuda a levantar. Porque tudo o que construíste "por ti", é apenas um conto de fadas do qual não queres que a história acabe. Foi no momento que nasceste que a tua mãe perdeu o seu mártir e fez de ti o seu "mais que tudo", levando-te na garganta, propagando os teus feitos como um sermão, como uma doutrina e uma religião que seguirá até ao dia do seu momento final. Farás então um esforço para que a cruz não te persiga e o seu peso não se faça notar na tua cara mas na tua mente "tão matura". E o dinheiro que poupas tão religiosamente, servirá para pagar à voz de Judas, que te assombre a mente todos os dias, para o resto da tua vida, sobre tudo o que não te orgulhas. Um jogo psicológico, no qual jogas apenas tu, sem controlo, e que, sem saberes, saltitas para a destruição de ti mesmo. Tu corres para a partida e não para a meta.

Abre os olhos. Estás a errar e ainda não te deste conta...

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Medo...