quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O caranguejo que viu o mundo morrer...



No horizonte, subia sozinho lentamente entre nuvens no céu azul, um Sol como nunca antes tinha nascido. A manhã escura, naquela praia invadida por pedras negras, iluminou lentamente a conquista que a natureza construía em cada buraco e saliência do paredão natural.
A maré subia com a luz, vagarosamente, em silêncio. Não se ouvia o vento nem a natureza, as aves ou as árvores. Por entre o rebentar das ondas, sentia-se o vazio do planeta. Não havia criaturas por perto para testemunhar o silêncio, se não o único caranguejo laranja que surgia inesperadamente debaixo de uma das pedras submersas pela água.

Subia a costa de lado, e ao chegar a terra seca, virou-se de frente para a grande pirâmide que ainda bloqueava o Sol. As cores no céu, antecipavam uma dança sombria. A morte do mundo. A morte das coisas, do calor, dos amigos e dos inimigos, do vento e da chuva. Sem qualquer forma de saber explicar, sentiu dentro de si o fim. Invadira-o como uma calma, um pensamento vazio, um odor agradável e um conforto caloroso. Hoje, será o ultimo dia que verá o Sol. Será o fim da pesca e das caminhadas, será a extinção inaudível da árvore da vida.

A água tocou-lhe os olhos e a onda puxou-o com ela. Deixou-se levar, envolto no cobertor transparente que espelhava a ultima viajem das nuvens. A escuridão abateu-se sobre ele, sentindo-se esquecido numa morte fulminante das cores, voltando então a ser recebido em êxtase pelo círculo milagroso da origem da vida. O calor apertava-lhe a carapaça e afundou-se, descendo ao fundo do oceano que o germinou. Ao fundo que levaria de volta, por direito, as carcaças de uma enorme evolução natural.
E sendo Nak, fruto da imaginação de um humano, ao interiorizar o fim de tudo, choraria com medo do seu desaparecer invisível, da calma com que se tornaria mais um na grande extinção à escala global. Porque estar sozinho, no fim, seria uma das maiores dádivas merecidas por todo o valor que nunca trouxe ao mundo. Mas saberia reconhecer! Porque deslumbrar o ultimo dia do universo, sentir o ultimo raio de luz entrar nos seus olhos e logo depois a escuridão gelada que nunca foi capaz de imaginar, faziam-no, não um humano de consciência, mas um animal que no fim dos seus dias, sentiu o seu fim.

Numa viajem até às profundezas do oceano que o viu nascer, fugiu assim ao contar das horas, dos minutos e dos segundos que lhe levariam os sonhos e as memórias.
Lá em cima, onde o Sol subia os céus, e cada molécula podia vibrar com vida, surgia já velha a escuridão, pesando em cada piscar de olhos, os fardos perdoados. O pano do teatro do pó das estrelas, fechava-se assim, no esquecimento gélido pintado pelas galáxias longínquas.


É na morte, que a natureza ressuscita...

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