sexta-feira, 21 de novembro de 2014

A morte não tira, conquista!



Estava uma criança, a chorar à beira de um rio. Numa mão tinha uma faca e na outra um pulso cortado. A morte apareceu, saltitando de guinchos eloquentes e aos poucos se aproximou da criança moribunda, perdida.
-- O que aconteceu criancinha? -- perguntou a Morte.
-- Cortei-me e quero morrer! -- respondeu-lhe com os olhos pesados e uma voz decidida.
-- Oh! Mas a morte não se deve chamar! Que idade tens tu menino?
-- Tenho cinco! Cinco dedos que não contam e que não agarram a vida. Sou torcido e sacudido, como as laranjeiras do outro lado do rio.
-- Vem, vamos saltar e dançar! -- a morte ofereceu-lhe a sua mão. -- Vamos rir e sorrir! Vamos celebrar a tua morte!
A criança pulou, agarrou-se à Morte e cantou os passos e os saltos. O sorriso preenchia-lhe o rosto e os olhos brilhavam de sossego e completa alegria. A Morte veio, deixou morrer e desapareceu.

E tu? Queres uma faca também!?

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I am nothingness
Nobody hears me because i am nothingness
Nobody sees me because i am nothingness
Nobody understands me because i am nothingness

Then I hear this beautiful melody
I approach her and dance with her and feel at ease
I dance... and dance... and realize too late
That this will be my last dance on Earth
My dance with Death

No one is going to miss me
No one will ever know my story
Because i am nothingness

2 comentários:

  1. E depois de ler isto pergunto-me: como podem seres tão jovens e ainda tão puros sofrerem, ao ponto de já conhecem a morte e de a desejarem para eles? A realidade é assustadora.

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    1. O que me assusta mais do que a realidade, é ter ocasiões em que me relembro de conversas tão vividas que não me recordo se as tive realmente ou se foi tudo um sonho.

      Este texto é forte. Reconheço isso. E existe uma certa apatia perante uma atitude destas, vinda da criança, que me faz lembrar sempre daquela criança de 6 anos (julgo) que se matou num rio, vitima de bullying. E isso toca-me de forma "especial" mas de uma maneira bastante profunda e dificil, porque para além de o rapaz ter uma idade tão nova, eu sabia e sei o que é ser vitima de bullying. Existe muito mais para dizer sobre este tema, e isso seria uma grande e interessante conversa, mas vou poupar o espaço e a tua paciência para outra coisa.

      O que este e o texto "Adoro o silêncio... (http://sonhosembranco.blogspot.pt/2014/10/adoro-o-silencio.html)" têm em comum, é a minha falta de consciência. A minha falta de juízo mental perante a situação que descrevo. Não existe razão nem amor. Torno-me acéfalo quando escrevo este tipo de textos tão... profundos e inimagináveis.
      Escrevo-os, não só para mim, como algo novo, uma nova experiência, mas também para ti. És a minha vitima principal. Tu e outras raparigas que amam crianças. E isso deixa o meu Ego deliciado com a tua reacção de "horrorizada" perante tamanha atrocidade. Porque gosto de chocar, de falar do tabu que não imaginas nem ousas imaginar.

      Uma criança com 4/5 anos, já compreende a morte. Mas para chegar ao "extremo" de a desejar, de a ver como um abraço, é algo difícil de digerir. E é isso que tento fazer. Sabes? É que eu não sou certo da cabeça. Mas amarei os meus filhos como nunca nenhum sere vivo o fez!

      Fica uma pergunta: sendo todos os textos uma autobiografia, será que desejo isto em parte? A morte de mim mesmo? Ou é apenas uma fuga da realidade? Sim, eu fujo para onde me sinto mais confortável. Para a depressão e sofrimento do meu ser, da minha alma. Eu mato-me e deixo-me ficar a observar.

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