A ir para o ciclo, entregar os papeis ao meu pai, ainda não me tinha aproximado das escadas que me levariam ao café/restaurante mais próximo ouço umas palavras:
-- Lá vem Jesus Cristo!
Parei, fiquei a olhar, e ponderei em ir ou não ter com eles. Decidi ir ter com eles, saber quem tinha gozado comigo:
-- Qual de vocês é que gozou comigo?
-- Não ouvimos nada, não fomos nós.
-- Então foram os outros? (grupo que andava de baloiço).
-- Nós não ouvimos nada, talvez tenha sido alguém que tivesse mais ali para cima.
-- Quando gozarem, gozem na cara! -- e continuei.
Se estas "crianças/jovens" gozam apenas "Porque sim...", existe então em portugal um grande abismo entre educação e alfabetismo, cuja a diferença entre as duas, segundo os pais e a grande maioria das pessoas, não é nenhuma pois ambas são praticamente a mesma coisa.
A caminhar na rua, aproximo-me de um bar/café/restaurante, ligeiramente pequeno, ou mais pequeno, e vejo dois homens de 45, 48 anos a virem fumar cá fora, ou estariam só à espera de alguém. Aproximo-me deles, e um 3º sai a correr, quase colidindo comigo. Parei de repente, esperei uma cagajésima de segundo e continuei a andar, e nisto um dos dois homens à entrada diz: "Cuidado, não batas na senhora". Olhei para traz, ficaram a olhar para mim e eu para eles. Não disseram nada. Típico, muito típico. Continuei e alguns metros mais à frente, já só os via a entrar para dentro.
Será que estas pessoas, tão velhas, mas mesmo velhas, 45 50 anos, têm necessidade em gozar comigo? Tem piada? Ganham alguma coisa com isso? MELHOR! Eu e eles ganhamos alguma coisa daquela "troca" de reacções ou palavras? Mas não ganhamos nada! Absolutamente NADA! Eles acham que estão a dizer a maior piada do mundo. Eu fico fodido por gozarem comigo, eles calam-se porque sabem que ouvi. Tentam mostrar cara de inocentes, e eu tento perceber qual foi a razão daquela cena estúpida e infantil. Eu não me riu, não sorrio, não fico contente, muito menos reconhecido e "confiante".
Estes dois "homens" não são homens, muito menos serão adultos, são crianças que não sabem comportar-se em publico.
É esta a educação que os pais de hoje dão aos jovens? Nenhuma ou quase nada?!
Estive a ler na revista mensal "Pais & Filhos" de Fevereiro de 2012, e um pequeno texto da página 45 chamou-me à atenção:
"Vão à escola, jogam no computador, saem com os amigos. Mas também têm treinos intensos todos os dias, fins de semana passados em torneios e, sempre, limites físicos e mentais para ultrapassar. São as crianças e adolescentes atletas de competição."
Estas pessoas, e estas crianças com a ajuda dos seus papásinhos, ficam com uma ideia tão mas tão errada com que é "ultrapassar" limites físicos e mentais, que acham que por jogarem hóquei no frio, jogar futebol à chuva ou ter treinos todos os dias que é algo que merece ser tão importante, e quiçá melhor do que subir ao Evereste.
Isto não é nada comparado com uma caminhada de de 18km, (10h +/-), pela serra da estrela, com os pés enterrados na neve, subir e descer mais de 400 metros de monte por caminhos sinuosos, onde as silvas e os arbustos espinhosos cobrem 90% do caminho. Não é nada comparado com uma ida da Mealhada à Praia de Mira de bicicleta por +/- 50 km, ou fazer uma subida no buçaco pela parte mais escarpada e atulhada de arbustos até à cruz alta, a pé. Ou uma volta de bicicleta de 3h no meio de nenhures, enfiados em canaviais e silvas com a lama até aos joelhos.
Nenhum destas crianças, e direi com 100% de certeza, que 85% das crianças e dos jovens em portugal, sabe o que é "ultrapassar" o que quer que seja.
Mais ainda o mais importante é ter força/capacidade mental para aguentar desafios tão extremos.
São crianças que necessitam de se sentir realizadas e reconhecidas com algo que não fornece qualquer tipo de educação social, muito pouco emocional e nada civica. Pode-se tirar algo de bom do desporto? O desenvolvimento da parte física, coordenação motora, do melhoramento da saúde, quer mental quer física. Isso é algo bom, bastante bom.
O problema é... começa nos pais, nos familiares, no meio envolvente, na escola, nos amigos, e na TV, jornais, revistas, música, filmes, publicidade... é um problema que começa principalmente nos pais porque estes não estão preparados, muitos nunca tiveram nem estão prontos.
Eu, não me sentido pronto de todo, leio (comecei), vejo, aprendo e tento perceber o que devo fazer, ou como melhorar a forma de educar dos meus filhos. Não os tenho por muito que os queira ter. Não há dinheiro, não há trabalho, não há tempo. Vi na televisão, na SIC (ontem) de que depois de o filho nascer toda a confusão e a falta de tempo acabam por encontrar um balanço e afinal parece que havia tempo, dinheiro, amor e disponibilidade.
Há quem leia muito, há quem se interesse, e há os que gozam com quem se preocupa com o futuro dos seus genes. É um problema que acaba por ser social.
Há os que se preparam e os que nunca estão prontos. Se alguém não está preparado nem tem capacidade mental para se educar e reeducar a sim próprio, terá dificuldade em educar os seus filhos. Se alguém não tem educação, maior será a dificuldade em dar educação aos seus filhos. O problema advém dos genes e do meio que envolve as crianças, acrescendo a educação que os pais lhes ensinam e como ensinam.
Se digo a alguém que me preparo para o dia em que for pai, para a educação, para as aventuras e descobertas, para as experiências dos meus filhos, elas riem-se, ficam preocupadas por pensar que engravidei alguém, ou que ando maluco. Mas quando explico porque leio, porque me interesso, e para além do aprender como ser pai, aprendo sobre mim, como sou, porque sou, porque faço o que faço, já compreendem. Se me conhecer a mim mesmo e se tiver confiança em mim mesmo, os meus filhos irão absorver essa confiança, essa auto-estima e talvez narcisismo, tornar-se-ão crianças diferentes e únicas. Não digo que são as melhores (para mim serão), porque até eu pensava que o era, até chegar um dia à escola e ver que o trabalho que tinha feito em 3 dias, também muitos o tinham feito. Mas serão diferentes, e pelo menos desejo, que vejam o mundo de maneira diferente. Para além de tudo o resto que lhes quero ensinar, mostrar, e desenvolver com eles, nunca estarei preparado. Tudo é novo e será com vontade que estarei ao lado deles.
O simples facto de os papás de hoje não terem nem sequer saberem como explicar aos filhos de onde vêm os bebés, ou como explicar o que é a morte, demonstra uma falta de vontade de se ser humano, falta de vontade para saber mais, de aprender mais, de perceber, de sentir, de fazer. Eu falei nestes dois, pois é algo que eu pude ter diferente dos outros. Os meus pais explicaram-me sem medos nem vergonhas e com o nome pénis e vagina, sucintamente de onde vinham e como se faziam os bebés, e o meu pai explicou o que era a morte quando eu era muito novo, talvez quando tinha 7 ou 8 anos.
Se sou uma pessoa diferente por causa disso? Sou, porque quando falava da morte no 7º, 8º e 9º, os professores e colegas de turma apareciam com os seus tabus. Que era mau, que metia medo, que não se devia falar, que ia parar ao inferno e que era algo horroroso.
É por isso que hoje em dia, em "Educação Sexual", muitos dos professores se não se sentirem bem nem conhecerem bem o seu corpo, não saberão dar nem explicar como funcionam os nossos sistemas reprodutores. E as crianças, por aprenderem dos pais o tabu do sexo, o tabu do que é masturbação, ou o medo de falar do sistema reprodutor masculino e feminino e como é que ambos trabalham em conjunto, crescem sem se conhecerem como funcionam. Crescem a pensar que o sexo é aquilo que vêm na televisão nas novelas e nos filmes pornográficos que os amigos arranjam. Crescem a pensar que o período das mulheres só dó dores de cabeça tanto a um e a outro, que o preservativo tira o prazer, que a pílula é só para regular a menstruação (Com N?).
Ninguém se preocupa, apenas desejam à força toda ter um filho. Como os adolescentes que aos 15,16 anos já têm um filho nas mãos. Sem pensar antes nas consequências ou sem tomar as devidas preocupações. É algo grave. Muitos não sabem o que é uma relação, o que é amar com o coração, apenas com as hormonas do crescimento.
Existe uma taxa de analfabetismo relativamente ao que é educar e fazer crescer um bebé. As crianças com o tempo, deixam de ter tempo. Como já referi em posts anteriores. Deixam de ter tempo para serem crianças, para brincar, conhecer, aprender, cair, experimentar e aventurar. Ser-se adulto não é só saber fazer o IRS, saber pagar a luz, saber o que é um desconto, saber o que são as Finanças, de onde vem o dinheiro e qual o seu valor. Ser adulto é assumir uma responsabilidade enquanto individuo, na sociedade em que se encontra. É assumir a responsabilidade de ensinar e também aprender com os outros, de se saber comportar em sociedade. E acima de tudo, se tiver filhos, criá-los para se tornarem melhores que os pais, e não piores.
O problema é... não se preocupam, e quando o começam a fazer, pode já ser tarde. Não significa que não possam aprender, ir a aconselhamento, mas o simples facto de os pais serem negativos ou parados fisicamente, alimentam o filho esponja com esse tipo de comportamentos e emoções. Se a música for apenas mais uma da rádio, se não existir acompanhamento, amor, vontade, risos e sorrisos, ou uma boa disposição em casa e em redor do bebé, ele será tudo menos uma criança feliz, mentalmente saudável e capaz.
Voltando novamente ao inicio deste texto, pode-se dizer que as crianças imitam os adultos.
Em Portugal há 118 idosos para cada cem jovens. Para cada jovem existem 2 reformados.
Quando for trabalhar, terei de descontar para 2 pessoas, para a segurança social e para mim próprio para o futuro. Se cada vez vivemos mais, e segundo disseram na Sic na reportagem "Politica do filho único", como os pais têm o seu primeiro filho cada vez mais tarde, pode ser um bom factor pois crescem num ambiente estável. Cujo os pais são pessoas mentalmente saudáveis (ou não). Como os filhos funcionam como esponja, serão e estarão mais bem adaptadas para a vida que aí vem.
Estas crianças irão crescer num ambiente consciente e de responsabilidades, e de onde saíram mais capazes que a geração anterior.
É importante estar-se minimamente preparado para receber um bebé na vida que até então pensávamos ser só nossa. E quando ele entra e fica assim nos nossos braços, com as birras à noite, a fome, o choro, as brincadeiras e os passeios, um filho será sempre um filho e deve-se ter a responsabilidade de lhe dar o melhor de nós Todos os dias.