quinta-feira, 7 de julho de 2011

Por não ter dinheiro..


Não faço mais da vida, por não ter dinheiro.
Não vou mais longe, por não ter dinheiro.
Não consigo mais, por não ter dinheiro.
Não cresço mais por não ter dinheiro.
Não aprendo mais, por não ter dinheiro.

Falta-me o dinheiro para ser "feliz"...
Falta-me o "poder" para "o" poder ter...

As revistas que não compro... Os Documentários que não compro, as coisas que não aprendo, as coisas que não posso ver, sem poder dar em troca, "dinheiro".
Tenho saúde, mas até ela eu tenho de comprar quando tiver doente.
Tenho filhos, mas até a eles tenho de comprar comida e roupas, se os quero ver crescer ao meu lado...
E o tempo? Que falta e faz falta?
E as coisas que não faço? Que não vejo? Que gostava de fazer...

É a anorexia do meu ser...
É o oprimir de um individuo, a opressão de uma mente que podia ser mais, que podia ser mais feliz, mais livre, sentir-me mais leve e sorridente, se tivesse o dinheiro, se tivesse o poder de ter tudo o que pudesse experiênciar...

Por não ter, vejo-me sem nada, mesmo que "possa" ter "tudo". E do que me vale então ver as coisas de outra maneira? Ou compreender? Ou ver os documentários? Se depois aquelas pontas que faltam, não aparecem para ser lidas, vistas, sentidas, por falta do tempo, por falta do dinheiro?

Não sou mais feliz, por não ter dinheiro, por não ter tempo. Por não puder ir para onde quero, por falta do tempo, porque a gasolina anda cara, porque o tempo é pouco, e temos sempre de trabalhar no dia a seguir. É uma frustração que não afecta ninguém, pois ninguém pensa nisso. Deixam de se preocupar.
E fazem "bem"...

Parece que de certa forma, me fecho, mas nunca o faço, sou apenas um trónhado! Um infeliz e um infortuno, que não pode tocar no pacote de plasticina lá no alto da mesa, porque sabe que nunca irá crescer, por muitos aniversários que faça... E é então que os "sorrisos", deixam de ser sorrisos, para passar a ser tristeza, que se afunda no corpo, na alma, sem dar-mos por isso.
Fecha-nos numa folha branca, num rectângulo desenhado a lápis, sem puder pintar com lápis de cera.
Para nunca descobrir o que é pintar em aguarela, sem sentir nem ver, nem aprender...

Deixo de puder ser mais, talvez melhor, e mais feliz, por não ter dinheiro... para realizar os meus sonhos, os meus fanatismos, os meus desejos, os meus gostos... estou fechado.

Para quê então "viver"? Se SEI!! que nunca poderei alcançar tal coisa? Está destinado, eu sei... sinto-o.
Irradio de felicidade. E os meus sorrisos invadem mentes...
Já que não posso ser mais por não puder ter... quero dar aos meus filhos, quero ensinar, quero mostrar-lhes o que o "mundo" tem e dá em cada grão de areia. Quero que saboreiem o mundo como eu o vejo. Sem poderes, sem dinheiros, mas com todo o tempo do mundo... (assim desejo).
Uma visão do mundo, dos sons, das paisagens e do espaço sem tempo, num tempo que transforma o espaço... e um choro profundo, num arrepio de alma, fará tremer tudo o que já viram numa vida vivida na ignorância desculposa do que é ser criança.

Uns nasceram com tudo, e outros nasceram sem anda, e sem nada ficarão...
Poderão não ter nada com que ambicionar, mas poderão pelo menos, sonhar no mar de sentimentos que aprenderam, em sorrisos e compreensão, em abraços e carinhos, em beijos e imagens, onde as palavras não fazem sentido.

Não será por não ter dinheiro, que os meus filhos não terão o que vejo.
Não será por não ter tempo, que os meus filhos não serão mais inteligentes do que já sou.
Sou burro... bastante estúpido, cromo e desajeitado... mas fico feliz por puder sentir o mundo. Um mundo que não se sente... que não se maravilha, que não se ouve, que só "eu" sinto.

O tempo pára, e aquela flor transforma-se na magnificiencia que o universo criou em todo o seu esplendor, em milhares de milhões de CABUMS e PUFFS, explosões cósmicas e biliões de colisões...
A lágrima escorre pelo rosto. Com o mesmo sentimento vagueiam os sentimentos e as emoções por algo tão... inútil. Um amontoado de átomos rodeados em mistérios e sentimentos...