terça-feira, 2 de julho de 2013

A voz que me encanta...

Atarefado com trabalho que trouxe para casa, encontras-me debruçado sobre papeis e com os dedos aos pulos pelas teclas do teclado. Olhavas-me as costas largas, curvadas do cansaço, imaginando os sorrisos partilhados nos dias em que caminhávamos lado a lado pela praia, tu de barriga e eu ternurento por ti.
Ouvi-te os passos. Julguei por momentos vir a receber um beijo teu, mas afastavas-te, devagar, na esperança de não me perturbar a concentração.

Encostei-me um pouco para trás, para tentar organizar as ideias, e ouço então uma melodia, uma voz harmoniosa, sensível, aconchegante. Senti as notas encaracolarem-se nos meus cabelos, desembrulhando-me da memória os momentos nostálgicos de criança. Levantei-me da cadeira e deixei-me guiar com pezinhos de algodão, até à nascente daquele carinhoso tom de voz. Foi na porta do pequeno quarto, que na minha barriga se desembrulhou um presente,  uma borboleta, uma palavra, um sentimento. Amor.
De braços cruzados, seguravas com ternura e completa dedicação, o filho que trouxeras ao mundo, que partilhas-te comigo. Deitavas-te sobre uma manta de um verde muito fraco, sobre edredons grossos e macios. Era uma imagem que me criava nostalgia. Sentia o teu abraço à minha volta, a tua voz nas costas da orelha como um murmúrio apaixonado e um beijo húmido, demorado e saboroso, dos teus lábios.
Ele de olhos fechados, sossegado, ouvia-te. Calmo, tranquilo. Envolvido pela voz, pelo teu tom, pela tua energia e palavras de uma mãe carente de abraços. A canção de embalar, deliciava-o através da magia cuidada e ténue da mamã botão.

Ver-te deitada, com ele ao teu peito, embelezou e amaciou ainda mais a imagem e o calor que senti-a cada vez que te deitavas ao meu lado. Abriste os olhos, ao sentir a respiração mais suave do teu pequerrucho, e deparaste-te com o meu sorriso parvo de pai babado. A troca de olhares entre os dois foi reconfortante. Soube, sem proferires uma palavra, que o enlaçavas em nó debaixo das tuas asas. E eu, no momento em que o segurei pela primeira vez, senti nos dedos trémulos, a força motriz que me fez querer correr de novo, viver de novo, respirar de novo, partilhar. A mesma dedicação que te fluía pela voz, pelo abraço protector, fluía-me pelas veias, pelo peito que se tornou largo, pela mente que amoleceu, pela paciência que cresceu. És para mim uma musa, um anjo que caiu do céu para me trazer, não um perfume, mas uma vida de sorrisos, de abraços e beijinhos, de alegria, felicidade e muitas aventuras. És a mãe que sempre imaginei, tornaste-te na mulher menina de braços grandes como o mundo, capazes de acarinhar o universo inteiro de estrelas.

Sem comentários:

Enviar um comentário