sábado, 8 de junho de 2013

Um peixe sem sermão...


O branco da minha pele, confundia-se com a neve. A pele rasgava-se a cada sopro do vento que me arranhava as orelhas e cortava as mãos. Um frio intimo, que me abraça e faz o coração disparar. As suas mãos enrolam-se nas minhas costas, trauteando nos ossos da coluna cansada.

Os cabelos imitavam as ondas das águas, encaracolando-se, molhado-se, tornando-se um peso. Todo o meu corpo estava louco, incontrolável. Cada pequena parte, parecia estar em auto-destruição, e até o meu cérebro começara a dar sinal de demência.

O meu Eu ficou sozinho. Enjaulado. A verdade é que também não poderia fugir.

Uma rabanada de vento, fez-me comer cabelos e agarrar com força à terra que me parecia engolir a cada subida do caudal do rio. Mas o meu corpo inerte, congelado pela saudade, pela solidão e pelo choro que me descia pela bochechas vermelhas, permanecia em fúria, sem dono e sem rédeas. Um formigueiro subiu-me pela braço. Soube naquele momento, que a morte estava próxima.
-- Ana! -- ouvi gritar. -- Ana! Ana! -- ouvi de novo, camuflado pelo som da espuma junto aos meus ouvidos, distorcido e retorcido pelo vento uivante que passava sobre mim. Que caminhava pesada e demoradamente, apertando cada ponta de osso exposto. Nem voz nem forças. Para sempre aprisionada na posição desencaixada, à margem de um rio sem sentimentos ou consciência. Um espírito narciso que me fazia flutuar para longe do meu miradouro.

As pedras batiam-me nas costas, partindo em cacos a cabeça já parcialmente vazia do meu alguém. Parti num barco rachado, afundado pelas lágrimas, na violência caótica de uma violação cerebral que me arrastou através de um bosque do qual lhe conhecia apenas as sombras, os gestos, as vozes e os seus cheiros. Fui abandonada e ali me deixaram, à beira de um rio que crescia, sem me antes terem ensinado a nadar.

Não tive o meu sermão, e agora pago ao ser reciclada pela malícia da natureza egocêntrica.
Sou um peixe em águas profundas. Demasiado profundas...

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