segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O que és tu para ti mesmo?


Calquei o chão, negro, morto. Respirei fundo e senti uma calma apoderar-se dos meus ossos, levando-me ao chão como uma tragédia retirada de uma opera. Uma leve brisa passou pelo meu corpo, entre cada pêlo dos meus braços, no pescoço transpirado e carinhosamente entre as orelhas. A frescura que me enchia os pulmões, desceu pelas pernas como um banho de seda. Senti-o mais frio nos joelhos acabando por desaparecer entre os dedos dos pés que se descalçavam do cansaço entre a terra húmida revirada.

Sozinho, enfiado num buraco empestado de morte, pintado de uma depressão que não queria ver e viver. Rodeado por um vazio infinito, de betão e destruição. Levantei os olhos, pintados pelo choro do medo de para sempre ficar aprisionado e inspirei. Os olhos fecharam sem força e o cobertor negro caiu sobre mim, aquecendo cada parte do meu corpo com o esquecimento da nudez que me vestia. Deixei-me por momentos desligar daquele lugar maldito e quando abri por fim os olhos, re-encontrei-me numa floresta colorida, que se despia num tom amarelo e vermelho, através de folhas que dançavam em direcção ao chão.
Ergui-me, semeando com as mãos a terra que agarrava com força. Entre os dedos sujos senti um gelo trepar, provocando-me um arrepio pela espinha abaixo. Com alguma força, a criatura agarrou-me uma mão, com mais força a outra. Com o medo a afogar-me numa arfar intenso, olhei com coragem que não tinha para o meu lado esquerdo e encontrei pequeno, uma menina de cabelos encaracolados, de olhos grandes e com um grande sorriso no rosto. Segurou-me melhor, e senti algo respirar ao meu ouvido. Uma mulher, alta, magra, nua tal como eu. Com um sorriso ligeiro e doce, aproximou-se da minha cara sem nunca desviar o olhar dos meus e beijou-me como se aceitasse a morte entrar no seu corpo.

As duas olharam em frente, para o interior de uma floresta que escurecia até ao horizonte, e da mesma forma que me arrastara até àquele ponto, arrastaram-me elas até à escuridão do desconhecido que temia com tudo o que me tornava eu em mim mesmo.

Tudo o que julgas saber, faz parte de um jogo que criaste na tua cabeça. Tudo o que sentes em cada momento, é como uma pista que te faz esquecer as regras. Porque tudo o que te faz cair tem a mesma força daquilo que te ajuda a levantar. Porque tudo o que construíste "por ti", é apenas um conto de fadas do qual não queres que a história acabe. Foi no momento que nasceste que a tua mãe perdeu o seu mártir e fez de ti o seu "mais que tudo", levando-te na garganta, propagando os teus feitos como um sermão, como uma doutrina e uma religião que seguirá até ao dia do seu momento final. Farás então um esforço para que a cruz não te persiga e o seu peso não se faça notar na tua cara mas na tua mente "tão matura". E o dinheiro que poupas tão religiosamente, servirá para pagar à voz de Judas, que te assombre a mente todos os dias, para o resto da tua vida, sobre tudo o que não te orgulhas. Um jogo psicológico, no qual jogas apenas tu, sem controlo, e que, sem saberes, saltitas para a destruição de ti mesmo. Tu corres para a partida e não para a meta.

Abre os olhos. Estás a errar e ainda não te deste conta...

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Medo...

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