quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O teu quarto gélido...



Ao cair no rio, transbordo-o, saceio-te a sede e escorro nos teus momentos mais tristes. Navego por ti, nas ondas do teu cabelo, enfrentando as tuas duas sereias e uma grande princesa, escondida, enfeitiçada e acanhada.

As mãos frias tocaram-lhe o peito, sem resposta. Separou ligeiramente os lábios, à espera que as palavras deslizassem sobre a língua, com algum carinho.
Ele adorava a sua doce voz, muito feminina, com agudos e graves que lembravam a primavera e os jasmins. O ambiente silencioso tornou-se num simples momento. Não havia incómodo pela ausência de palavras trocadas ou dos barulhos quotidianos. Ela fechou de novo a boca, e olhou-o nos olhos, deambulando pela cara que a fazia uma certa cocega brincalhona no seu pescoço, atravessando os contornos da orelha, acabando por explodir como confetis de memórias no seu cérebro. Desceu o olhar acastanhado, presenteado de ouro, pelas veias do pescoço, ele virou a cara para olhar pela janela, e derreteu-se de desejos com o encher do peito, de ar e de um grande suspiro inaudível.
Sentia-se observado. Olhando pelo canto esquerdo do olho, localizou sem dificuldade, a cara branca e os cabelos escuros, num quarto pintado pelas cores de uma rapariga embonecada. Estava a vários passos de distância, encostada à baixa armação de madeira na cama, iluminada, por pouco tempo, pelo sol que caminhava em direcção a casa.
Fitando o corpo dele, uma nuvem voo em frente ao sol e rapidamente se sentiu viva de novo. Com um olho meio fechado, virou a cara para a estrela, deixando que afasta-se da sua cara fria o gélido inverno que se sentia dentro do seu quarto.

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Seguimento de: Dói já não te reconhecer...

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