sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Sou uma concha... vazia


Ao ouvir a minha voz, sinto a fragilidade da máscara que uso e abuso. Acorrento-a às paredes do meu consciente e pressiono-a até gritar. Bato, esmurro, violo e torturo, para manter à tona o pior, o macabro, o negro, a depressão, a tristeza e a raiva que ela própria quer atirar para trás das costas, do seu sorriso brilhante de inconsciência.
Pelos meus olhos vêm a raiva que tenho do mundo, mas não o deslumbro que tiro de cada imagem, de cada som e perfeição. Porque uma folha de outono é só "bonita" e não um mundo de ciência biológica e psicológica. Porque as pessoas não têm cérebro... Há ainda quem seja exagerado por dizer saber ver, e há os que nunca se preocuparam, os que nunca viram nem precisam de ver.
Porque humanos não existem, existem é pessoas. Porque não existe um conjunto de pessoas, apenas indivíduos individuais. Que não querem rótulos nem ficarem presos em caixas de sapatos.
Porque se riem de mim sem eu dizer uma piada? Porque gozam? Porque sou bonito e diferente, porque sou fácil e casual. Sou o medo daquilo que não são, a ambição do que sempre desejaram. Porque temem e não compreendem. Sou um "Jesus" com olhar e sem palavras. Porque invejo. Porque sou narcisico. Explorasse eu a minha beleza com mais cuidado e temiam-me... desejavam-me. Mas eu não sou modista! Não sigo modas, não sigo estilos, nem efeitos nem feitios. Não sei falar, não sei agir e implantar emoções. Não provoco, nem invoco.

Num passeio de Coimbra, uns olhos de uma jovem mais velha arregalaram-se ou olharem os meus... a sua expressão impressionada, fez-me olhá-la, fitá-la durante aqueles metros que nos separavam de nos cruzarmos. Senti-me estranho mas confiante, bonito, causei impacto... será?
"Os olhos são a janela da alma". Os meus são a porta para um universo completamente "novo". Em que os meus erros afectam-me mais do que as minhas conquistas. Em que os meus fracassos são atirados, triturados e esmiuçados até se tornarem conquistas, qualidades.
Porque o dinheiro que não tenho, não me permite ser mais, e esse "mais" não me deixa ser. Mas eu tenho muito há minha volta para ser "mais" em muita coisa. Porque não me dedico a uma só coisa... porque não me interesso só por meia-dúzia de temas.
O meu corpo é uma muralha, que impede a entrada de pessoas como tu, de ver quem sou por dentro. Não estou aqui para causar impacto com imagens, com vídeos, com fotografias, com manipulações em photoshop, com sangue, tatuagens, piercings, roupa ou cabelo... estou aqui para causar impacto com a minha escrita, uma escrita de merda, mas é a minha e tem valor por ser minha. Porque para mim tem e é a melhor que consigo fazer.
Porque o pensamento é a única forma que tenho de aprender, porque a escrita ajuda-me a expressar e a explicar o que vejo e sinto. Sem uma consciência analítica, o mundo seria para sempre bonito, estranho e maravilhoso.

Não existe medo em mim de ser o que sou, de fazer o que faço, apenas de dizer o que não devo da maneira e no momento mais inapropriado. Ao errar com o que não devo, aprendo a ser, a crescer e a não ter medo. E enquanto se riem ou se escondem de medo, eu caminho e recordo para um dia saber ser e ensinar o que aprendi sozinho ou não. Porque saber educar, também requer não saber educar, não estar lá para tudo. Dar um tempo, dar espaço, chatear ou incomodar. Consciência independente é a maior dádiva que um ser humano pode adquirir. Mas tudo o que vocês vêm quando me fitam os olhos, me cobiçam o cabelo, é um rapaz sem alma, sem paz, apenas com raiva e sem palavra, sem opiniões e emoções. Com um vazio do tamanho do espaço e nada de bonito para exteriorizar. Ainda bem que assim é, estou a fazer bem o meu trabalho...
Não quero ser fácil, apesar de transparecer várias coisas. Não quero ser acessível, apesar de sorrir e ser casual. Sou um frasco semi-transparente com fechadura diferente. Em que para me abrires, terás de me conhecer. Mas não é assim com toda agente? O teu problema é que nunca me irás conhecer por inteiro, talvez cries uma imagem, uma estatística, até ao dia em que perceberes que não sou assim tão diferente, tão incrível e tão misterioso. Acabo por ser mais um rapazito que não fez nada na vida e que não tem nada de mais para dar a uma rapariga, para ensinar aos seus filhos, nada para dar, apenas trabalho e dor de cabeça a quem estiver ao meu lado.
Não é assim que me querem ver? Querem me longe não é? Quem vos interessa se sou assim tão "zero" a tudo? Mas não sou... e sou-o cada vez menos. Pois é o medo de um dia não saber que me faz aprender. Malandro? Não serei o único. Mas motivado não paro até conseguir o que quero. Desvalorizado, vou ao fundo e subo de novo, não deixo de bracejar até que o meu corpo sucumba à inevitável lei da vida.

Sou uma concha vazia, encosta-a ao ouvido com cuidado e ouvirás os meus sonhos...

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